sexta-feira, 1 de abril de 2011

As gravatas

O humorista Ricardo Araújo Pereira resumiu, no programa “Governo Sombra” da “TSF”, o que está em causa no actual cenário político: «Estão reunidas as condições para que o PSD possa ir aplicar exactamente as mesmas políticas, mas com outro tipo de gravatas». Isto no dia em que José Sócrates se demitiu, Passos Coelho apareceu frente às câmaras de televisão de gravata verde (sinónimo de esperança?) e Teixeira dos Santos elogiou a gravata azul com riscas prateadas de Bernardino Soares...

É, de facto, disso que se trata, pois Portugal chegou a uma situação em que não há quase margem de manobra para quem estiver no poder. O descalabro das contas públicas é de tal ordem – e ainda não temos noção da real dimensão do problema – que algumas medidas vão ter de ser tomadas, por mais impopulares e duras que sejam. Os parceiros europeus já deixaram isso bem claro.

Poucas horas depois da demissão de José Sócrates, na “obrigatória” deslocação a Bruxelas para explicar a Angela Merkel a trapalhada que anda por este quadradinho, Passos Coelho admitiu o aumento do IVA. Esta é apenas a indicação do que por aí vem, independentemente de que quem estiver à frente do «governo regional de Lisboa», como lhe chamou Ana Sá Lopes, no “i”.

Neste tempo de vacas esqueléticas, em que existe um grande descontentamento em todos os quadrantes da sociedade, importa que, pelo menos uma vez, os políticos tenham a hombridade de traçar um quadro realista aos portugueses e de actuar com sentido de responsabilidade. E que, neste período pré-eleitoral, governo e oposição tenham o bom-senso de não tornar o país ainda mais ingovernável. Como disse Ricardo Araújo Pereira, ainda antes da queda do governo, percebe-se que todos queiram eleições, o que não se percebe é porque é que alguém quer ganhá-las...

O actual contexto contém todos os ingredientes para o surgimento de soluções mais extremistas, que podem ter sérias consequências para o futuro do país. Pode-se dizer que o voto de descontentamento em José Manuel Coelho, nas Presidenciais, ou nos Homens da Luta, no inócuo e bolorento Festival da Canção, são apenas diatribes para o anedotário nacional. Mas a verdade é que são sinais de que o povo português está farto desta forma de fazer política, em que realmente só muda a gravata, pois, citando os Mão Morta, «há já muito tempo que nesta latrina o ar se tornou irrespirável». E a manifestação do passado dia 12 de Março foi muito mais do que um protesto geracional; foi uma prova de que as pessoas estão à beira de perder a paciência. Depois não digam que não houve avisos...

[Publicado no Diário do Minho, 27 de Março de 2011]

segunda-feira, 21 de março de 2011

O cliente serve para pagar os prejuízos...

 
© Luísa Teresa Ribeiro


 Quem usa o comboio como meio de transporte anda por estes dias à beira de um ataque de nervos. As greves começaram no mês passado e, segundo o site da CP, vão prolongar-se até ao final de Março. Nas estações já se fala, no entanto, em Abril.

Esta greve prolongada está a causar transtornos a quem pretende usar os comboios para se deslocar e dá de caras com uma placa a dizer “suprimido”. No caso de Braga, é flagrante a perturbação do serviço de Alfa Pendular, o que obriga os passageiros a ir até ao Porto para apanhar esse comboio. Perde-se muito tempo e comodidade, especialmente para quem tem de viajar com malas, mas descobrem-se coisas muito curiosas sobre o funcionamento da CP.

Quem quiser vir de Lisboa-Oriente para Braga e tiver comprado o bilhete do Alfa no Multibanco até Porto--Campanhã, na capital não consegue adquirir o título de transporte que lhe permite fazer o resto do trajecto num suburbano. Segundo os funcionários da empresa, as bilheteiras de Lisboa-Oriente não vendem esses bilhetes porque não têm ordem para vender e, mesmo que o fizessem, seria dinheiro deitado ao lixo porque os títulos de transporte têm validade de duas horas a partir da sua aquisição. Na prática, isto significa que ou as pessoas se arriscam a entrar no comboio sem bilhete ou vão para a fila e vêem o comboio a partir sem elas. Perante este absurdo, o serviço de atendimento a clientes limita-se a estender o livro de reclamações...

Mas há mais situações absurdas, que se traduzem em preços diferentes para o mesmo percurso, nos mesmos comboios. Se pedir um bilhete de Braga a Aveiro, tendo obrigatoriamente que mudar em Porto-Campanhã, paga 6,80 euros. Se tirar um bilhete de Braga a Porto-Campanhã (2,30 euros) e um bilhete de Porto-Campanhã a Aveiro (2,30 euros) paga 4,60 euros.

A par do encerramento de várias linhas com base em critérios economicistas, esta greve está a fazer mais pela ideia da privatização da empresa do que os discursos liberais todos juntos. Os cidadãos que pagam os prejuízos monstruosos da CP ficam revoltados ao ver que os serviços que lhes são prestados estão muito longe de justificar o dinheiro que para ali é canalizado. Se as pessoas são obrigadas a pagar a factura, mesmo que até nem usem os serviços, é urgente começar a exigir mais eficiência e qualidade às estruturas públicas. Afinal, se elas não existem para servir a população, existem para quê?

[Publicado no Diário do Minho, 7 de Março de 2011]

sexta-feira, 11 de março de 2011

Mais e melhor voluntariado

Em 2011 assinala-se o Ano Europeu das Actividades de Voluntariado que Promovam uma Cidadania Activa, um tema que não poderia ser mais pertinente quando a nossa sociedade dá sinais alarmantes de ser profundamente desumana.

Este ano europeu pretende «reduzir os obstáculos ao voluntariado na União Europeia»; «promover e capacitar as organizações de voluntários e melhorar a qualidade do voluntariado»; «reconhecer o trabalho voluntário»; e «sensibilizar as pessoas para o valor e a importância do voluntariado».

O voluntariado desempenha um papel relevante nas mais variadas áreas, pelo que importa reconhecer-lhe a importância social que tem. A nossa sociedade seria seguramente muito pior sem o esforço das pessoas de todas as idades e condições sociais que dão o seu tempo e esforço em prol dos outros.

Segundo o Conselho Nacional para a Promoção do Voluntariado, Portugal terá cerca de um milhão e meio de voluntários, entre activos e “esporádicos”. Já o Eurobarómetro indica que mais de 100 milhões de europeus estão actualmente envolvidos em actividades voluntárias, um número que é considerado insuficiente pela União Europeia.

Este ano é, por isso, importante para mostrar que todos podem dar o seu contributo, pois é possível fazer voluntariado em diversas áreas, desde o apoio social, à defesa da natureza ou do património, tirando partido das competências e gostos pessoais de cada um.

É igualmente uma oportunidade para mostrar que o voluntariado obriga a assumir um compromisso por parte de quem faz, mas também por parte das instituições. Cada vez mais se exige a qualificação do voluntariado, pelo que é necessário que as instituições apostem na formação dos voluntários e na sua integração nas rotinas organizacionais.

No entanto, este é também um tempo para estar vigilante em relação à forma como as organizações usam o trabalho voluntário. Uma notícia sobre o Banco do Voluntariado – uma plataforma que tem por objectivo «servir de ponto de encontro entre a procura e a oferta de trabalho voluntário» – dá conta de que há «empresas com pouca capacidade para pagar ordenados» que aproveitam o trabalho gratuito dos voluntários.

Seria extremamente perverso se as empresas passassem a substituir os trabalhadores por voluntários, alguns deles no desemprego ou jovens a tentar entrar no mercado laboral. «As pessoas precisam de dinheiro. O voluntariado não pode, nunca, substituir um emprego. Era injusto para o mercado de trabalho», alertou, e muito bem, a presidente desta organização, Isabel Jonet.

[Publicado no Diário do Minho,15 de Fevereiro de 2011]

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Cidadãos impedidos de votar

Foto: Fila para saber o número de eleitor na EB 2,3 André Soares (Braga). DR

O que se passou nas eleições Presidenciais de dia 23 de Janeiro foi demasiado grave para que termine sem que sejam apuradas responsabilidades políticas: houve pessoas impedidas de exercer o seu direito de voto devido às confusões provocadas pelo Cartão do Cidadão. O pedido de desculpas do ministro da Administração Interna, vindo tarde e a más horas, a realização de um inquérito pela Universidade do Minho e o pedido de demissão de dois bodes expiatórios – o director-geral da Administração Interna e o director da Administração Eleitoral – são insuficientes perante a gravidade do que aconteceu neste acto eleitoral.

Estas eleições vão, provavelmente, ficar para a história como aquelas em que a abstenção atingiu os 53,37 por cento [o valor foi actualizado para53,48 por cento nos resultados finais]. Deveriam era ficar na memória como aquelas em que houve pessoas a aguentar estoicamente em filas para saber o número de eleitor – em Braga houve eleitores à espera durante uma hora – e em autênticas correrias para conseguir chegar a assembleias de voto onde nunca pensaram ter de ir votar. Por exemplo, Maria José Nogueira Pinto relata no “Diário de Notícias” que ela e o marido, morando na mesma casa, souberam no dia das eleições que passaram administrativamente a votar em sítios diferentes. Sem que ninguém os tenha avisado antecipadamente...

A questão central é que se avançou para um novo modelo de identificação sem estarem reunidas as condições mínimas para o seu funcionamento. O deslumbramento pelo poder da tecnologia fez-nos ter um Cartão do Cidadão muito moderno, com muita informação lá dentro, mas sem coisas básicas como o número de eleitor. Resultado, domingo, as pessoas viram-se com um pedaço de plástico na mão que não lhes servia para nada quando as outras coisas igualmente muito modernas, como o portal na Internet e o sistema de aviso por SMS, deixaram de funcionar. O novo sistema foi apresentado aos cidadãos como tendo múltiplas vantagens, mas afinal só lhes veio é complicar ainda mais a vida.

Há quem queira culpar os cidadãos pelo que se passou, porque não se preocuparam em saber atempadamente o seu número de eleitor e o local onde teriam de votar. Sejamos honestos: não se pode atribuir aos eleitores a culpa de não saberem um número que os serviços do Estado é que têm a obrigação de facultar. Quando procedimentos administrativos feitos em cima do joelho põem em causa os princípios democráticos, o caso é demasiado sério para que se encare como mais uma tontice da era Sócrates.

[Publicado no Diário do Minho, 28 de Janeiro de 2011]

domingo, 9 de janeiro de 2011

Feche-se o interior do país

© Luísa Teresa Ribeiro

«Foram-se os centros de saúde, os correios, as escolas primárias. Chegou agora a vez dos comboios. Em algumas terras do interior o pouca-terra vai deixar de apitar porque a CP decidiu suprimir a sua oferta onde ela é especialmente deficitária. O mapa ferroviário português vai voltar a encolher, deixando ainda mais a descoberto extensas áreas do país».

Este é um excerto de uma reportagem do “Público” sobre os 356 quilómetros de linhas de comboio que vão ficar sem serviço regional, dos quais 144 desaparecem do mapa ferroviário e 212 mantêm ainda comboios de mercadorias e serviços de longo curso. O encerramento é uma forma de reduzir custos, já que, segundo a mesma fonte, em 2010, o serviço regional deu prejuízos de 56,6 milhões de euros.

Numa altura em que os cofres públicos estão numa situação deplorável, mas em que há desperdícios por todo o lado, os cortes cegos são a solução mais fácil. Mas quando se trata de encerrar serviços básicos, as contas não podem ser feitas olhando apenas para o dinheiro que se vai conseguir poupar.

Como refere o presidente da Câmara de Cantanhede, nessa reportagem, se os critérios económicos forem os únicos a ser tidos em conta na decisão de fechar as linhas, «então mais vale encerrar o interior e vai tudo para o litoral». E é, infelizmente, disso que se trata, mesmo quando os impostos são iguais para todos, independentemente dos serviços com que pode contar.

Recorde-se, por exemplo, uma reportagem do “Diário de Notícias”, de Agosto, que falava de terras que já tiverem maternidade e hoje nem farmácia têm, obrigando a população, maioritariamente idosa, a percorrer dezenas de quilómetros para ter acesso aos serviços de saúde.

O mesmo se verifica com o encerramento das escolas, fazendo com que as crianças percorram distâncias infinitas em duvidosas condições de segurança. É do senso comum que o fecho da escola é a machadada final na vitalidade das aldeias, mas estamos num país onde o bom senso é coisa rara.

Se a actual linha de actuação se mantiver, depois do anunciado fim dos comboios, ainda havemos de ver tarifários diferenciados para levar cartas às zonas mais remotas ou a água a preços exorbitantes em concelhos onde o precioso líquido é abundante, à semelhança do que hoje se passa com municípios onde é produzida electricidade, mas que têm abastecimentos miseráveis. Se esta é a estratégia de desenvolvimento que temos, então mais vale assumir de uma vez por todas que o interior do país é para fechar.

[Publicado no Diário do Minho, 7 de Janeiro de 2011]

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

UM recebe encontro de jovens investigadores


O 1º Encontro de Jovens Investigadores das Ciências da Comunicação realiza-se hoje, na Universidade do Minho, em Braga. Mais informações aqui.

sábado, 1 de janeiro de 2011

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Mete-se uma rolha na boca do gado?

Em Agosto, sob os holofotes da comunicação social, o ministro da Agricultura abraçou-se a duas agricultoras do Soajo afectadas pelos incêndios que devastaram o Parque Nacional da Peneda-Gerês, prometendo que as ajudas para a alimentação dos animais estavam garantidas. Perante pastores, autarcas e governadores civis, António Serrano assegurou que não havia o perigo de incumprimento da promessa, uma vez que existia o dinheiro necessário para este apoio de emergência.

Quatro meses depois, o processo parece andar perdido nas teias burocráticas em que se enredam todos os assuntos em Portugal, mesmo os mais urgentes, sem que os agricultores afectados pelas chamas que consumiram uma parte significativa do único parque nacional português tenham tido acesso ao apoio para assegurar a alimentação do gado na ausência de pastos.

A questão foi levada novamente ao Parlamento através de um requerimento do deputado do Bloco de Esquerda eleito pelo círculo eleitoral de Braga, Pedro Soares, que diz já ser «impossível» o cumprimento da promessa, feita pelo ministro António Serrano na Comissão Parlamentar de Agricultura, de que o pagamento seria efectuado ainda este ano.

Infelizmente, esta situação repete-se quase sempre nas situações em que são prometidas ajudas de emergência, no calor do acontecimento, em que uma medida desta natureza fica sempre bem para tentar enxugar as lágrimas que se vêem correr no rosto das vítimas.

É certo que há um mínimo de formalidades que é preciso cumprir para que seja atribuído a particulares dinheiro do erário público, mas é incompreensível que, por exemplo, as ajudas para alimentar os animais demorem tanto tempo, como se entretanto o gado não tivesse que comer.

Este ano, num Verão quente em termos de incêndios, o Parque Nacional foi alvo de uma autêntica correria de políticos, que rivalizavam com as chamas na captação da atenção mediática. Muitas críticas e outras tantas promessas, que parecem ter voltado a ficar adormecidas, até que o fogo torne a lavrar no que resta da principal área protegida portuguesa. E aí, mais uma vez, tal como sempre acontece, a culpa morrerá solteira.

[Publicado no Diário do Minho, 18 de Dezembro de 2010]

Actualização: O Ministério da Agricultura anunciou a 30 de Dezembro que pagou 2,3 milhões de euros para ajuda alimentar

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

O Presépio em destaque

Foto ©DR, retirada daqui

No próximo dia 19, o Núncio Apostólico em Portugal inaugura a quinta edição do Presépio ao Vivo de Priscos, Braga, considerado o maior evento do género na Europa. Esta iniciativa com 600 participantes, que ocupam um espaço com cerca de 30 mil metros quadrados, tem vindo a afirmar-se como uma referência incontornável na época natalícia bracarense, começando a cativar pessoas de paragens cada vez mais longínquas.

Para além de mostrar como uma comunidade se pode unir em torno de um projecto comum, este evento tem a particularidade de chamar a atenção de uma forma atractiva para o elemento central do Natal, que é o Presépio. E, para além disso, de canalizar os donativos para uma vertente social, este ano concretamente para a construção do centro de dia, a recuperação da casa paroquial e a missão de Ocua (Norte de Moçambique).

Na apresentação desta iniciativa à comunicação social, o pároco de Priscos deixou a sugestão da necessidade de criação de uma rede de Presépios em Braga. «Não queremos que as pessoas nos visitem só a nós. É importante que visitem os outros», afirmou o padre João Torres.

Numa zona com muita tradição em Presépios, especialmente em Presépios movimentados, a proposta do sacerdote faz todo o sentido, não só do ponto de vista religioso, mas também do potencial turístico que um roteiro deste género apresenta.

Num tempo em que são os anúncios da Popota e da Leopoldina que anunciam a aproximação do Natal, todos ganharão se houver um circuito que mostre às pessoas a beleza do Presépio e que as guie pelas excelentes manifestações que há em diferentes localidades bracarenses. Estas são demonstrações genuínas da fé, da arte e da vontade das populações locais, muito diferentes das “aldeias e vilas Natal” que nesta época do ano estimulam ainda mais o consumismo.

Neste cenário, importa valorizar o que é genuíno, como está a fazer o Museu Pio XII, que apresenta na II Mostra de Presépios Regionais obras de artesãos como Júlia Ramalho, Conceição Sapateiro, Manuel e Maria Conceição, Helena Silva, Fernando Soares, Júlio Ferreira, Camila Silva, Júlio Alonso, irmãos Baraças, Júlia Côta, Manuel Pinha e irmãos Pias-Maria Jesus.

Existe, pois, potencial mais do que suficiente para se criar uma nova dinâmica em torno do Presépio. Haja vontade e apoios para que a essência do Natal volte a adquirir o esplendor que o Pai Natal ameaça tirar-lhe.

Presépio de Priscos no Twitter Facebook.

[Publicado no Diário do Minho, 4 de Dezembro de 2010] 

domingo, 5 de dezembro de 2010

Animação natalícia

© Luísa Teresa Ribeiro

O centro de Braga está novamente "vestido" com trajes de luz e cor. Por estes dias, é possível ver transeuntes de máquinas fotográficas e telemóveis apontados para a novidade deste ano: a árvore gigante plantada em frente à Arcada. E, nas vésperas dos feriados, até há "compras fora d'horas". Pena será se depois desta animação natalícia o centro histórico de Braga voltar a cair no sono profundo em que tem andado. Mais fotos aqui.

sábado, 27 de novembro de 2010

Ajudar quem mais precisa

Foto: ©Banco Alimentar

Hoje e amanhã há uma recolha de alimentos promovida pelo Banco Alimentar Contra a Fome. Agora, que se aproxima uma época de tanto desperdício, é uma boa altura para partilhar o básico com quem mais precisa.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Mais criatividade, menos despesa

© Luísa Teresa Ribeiro

Há uns dias, numa loja, ouvi uma idosa a dizer que não ia ter dinheiro para pagar uma conta, depois de ter dado algumas notas para que uma jovem com ar arrogante pudesse comprar um blusão de couro. Embora sem conhecer as pessoas e a história que estava por detrás daquele desabafo, não pude deixar de me sentir incomodada com a tristeza com que a senhora humilde ficou a olhar para a carteira vazia.

É que este episódio é revelador do espírito consumista e egoísta em que vivemos, no qual a pressão para estar na moda se sobrepõe a quase tudo.

Especialmente nesta época, em que se aproxima o Natal, intensificam-se os apelos consumistas, fazendo com que se subverta a verdadeira essência desta quadra. Os shoppings e as lojas há muito que começaram as suas operações de charme aos potenciais clientes. As campanhas publicitárias multiplicam-se, começando a ofensiva comercial cada vez mais cedo. Num breve olhar pelas bancas das revistas, verifica-se que muitas já apresentam as edições especiais com sugestões para prendas, toilettes de Natal, decoração da casa e tudo o mais que se possa imaginar para comprar, comprar e comprar.

Um estudo apresentado pela consultora Delloite revela que, este Natal, os portugueses prevêem gastar uma média de 575 euros, o que significa uma redução em 6,3 por cento nos gastos em relação ao ano passado. De acordo com a 13.ª análise anual da Deloitte sobre as intenções de compra dos europeus na época do Natal e passagem de ano, levado a cabo em 19 países, mais de 90 por cento dos portugueses tencionam oferecer menos presentes, prendas mais baratas e úteis. Mas, mesmo assim, ainda é um gasto demasiado elevado...

A redução na despesa deve ser também uma preocupação das entidades públicas, tão habituadas a desbaratar o dinheiro dos contribuintes. Sem negar que as cidades ficam bonitas com as iluminações e que o comércio parece ganhar com a animação natalícia, a actual conjuntura económica obriga a que os responsáveis pela administração do erário público tenham bom senso nos gastos, coisa a que não estão acostumados.

Daí que faça todo o sentido um movimento que, com uma página no Facebook, apela «à administração local, às empresas privadas e aos cidadãos para que se contenham nas despesas com as iluminações de Natal este ano». «Pensem em formas criativas de celebrar o Natal com o mesmo brilho, mas com menos custos», este é um sábio conselho, que todos devem aproveitar.

[Publicado no Diário do Minho, 14 de Novembro de 2010] 

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

A essência

© Luísa Teresa Ribeiro

Por estes dias, os cemitérios enchem-se de pessoas carregadas de flores e velas. Algumas sepulturas votadas ao abandono durante todo o ano vêem por esta altura velas e arranjos caros, que por lá ficarão até que o calendário traga mais um Dia de Fiéis Defuntos. É verdade que é melhor que nada, mas é certamente muito pouco se este for apenas mais um ritual sem significado.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Dar de comer a quem tem fome

© Rodrigo. Imagem tirada daqui.

A crise é uma palavra que entrou no nosso vocabulário diário e veio para ficar. Não estamos a falar de algo abstracto ou longínquo, mas de uma realidade com repercussões concretas na vida das pessoas, que se vêem confrontadas com aumento de impostos, desemprego, cortes nos salários e desaparecimento de algumas regalias sociais.

Estes tempos difíceis que vivemos mostram que o Estado e muitas famílias vivem muito acima das suas reais possibilidades económicas, gastando o dinheiro que não têm.

O mais escandaloso é que o Estado, que se prepara para sugar ainda mais os recursos das pessoas e das empresas que trabalham, continue a desbaratar o dinheiro em coisas supérfluas. Alguns dos gastos do Estado são mesmo uma afronta a quem paga impostos, por isso é surpreendente que as pessoas não expressam essa revolta de forma mais enérgica.

Há também famílias que se queixam de dificuldades para equilibrar o seu orçamento doméstico que continuam a querer manter o nível de vida a que se habituaram, com direito à compra de vestuário, calçado e acessórios de marcas que praticam preços com muitos zeros, carros topo de gama, viagens para destinos caros e outras mordomias.

Esta é, portanto, uma excelente oportunidade para todos aprendermos a viver com mais realismo, adoptando estilos de vida adequados aos rendimentos que temos. Mas esta é igualmente uma oportunidade para prestarmos mais atenção a quem está à nossa volta e pôr a solidariedade em prática.

É que não nos podemos esquecer que há muitas pessoas que passam realmente necessidades e que precisam de apoio para poderem sobreviver. Tal como têm alertado as instituições que trabalham no terreno, como a Cáritas ou as Conferências Vicentinas, há cada vez mais casos de pobreza envergonhada, que precisam do nosso olhar atento.

No Dia Internacional para a Eliminação da Pobreza, a Cáritas Arquidiocesana promoveu uma marcha pelas ruas de Braga, em que alertava para o papel que cada um pode dar para travar o previsível aumento das situações de pobreza. Mesmo que seja com pequenos gestos, não nos podemos demitir de dar o nosso contributo, porque a fome ainda existe e a pobreza não pára de aumentar.

A Cáritas de Braga promove uma recolha de alimentos a 30 e 31 de Outubro, no Continente de Braga, para fazer face ao aumento de pedidos. Já o Banco Alimentar contra a Fome realiza nos dias 27 e 28 de Novembro mais uma campanha de angariação de géneros alimentares nos supermercados do distrito. Estas são duas boas oportunidades para mostrarmos que nos preocupamos em dar de comer a quem tem fome.

[Publicado no Diário do Minho, 25 de Outubro de 2010] 

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Praxe(s)


© Luísa Teresa Ribeiro




Imediações do Campus de Gualtar.
Braga.
19 de Outubro de 2010.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Porque é que eu gosto do Outono?




© Luísa Teresa Ribeiro

Por causa das cores, dos cheiros e dos sabores. Porque já não é Verão e ainda não é Inverno. Por mim, a marcha do tempo podia parar por aqui.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Vale a pena agir como cidadãos!

© Luísa Teresa Ribeiro

 A Assembleia da República votou por unanimidade os projectos de resolução apresentados pelos grupos parlamentares do BE e do CDS/PP que recomendam a publicação em Diário da República do despacho de classificação como monumento nacional das Sete Fontes e da sua zona especial de protecção.

Esta unanimidade foi conseguida na sexta-feira, dois dias depois de o assunto ter sido debatido no Parlamento graças a uma petição popular que, em tempo recorde, ultrapassou as quatro mil assinaturas necessárias para este assunto ser debatido pelos deputados.

Este é um passo positivo para a preservação do importante complexo de abastecimento de água do século XVIII, podendo ser um ponto de inflexão na fúria destrutiva do património que tem caracterizado a história mais recente da cidade de Braga. Mas este é sobretudo um bom exemplo de como a iniciativa de um grupo de cidadãos empenhados pode marcar a diferença na vida de uma comunidade.

Embrenhados nos seus problemas quotidianos, os cidadãos esquecem-se frequentemente de que o seu dever de participação vai muito para além de depositar o voto na urna e cruzar os braços na esperança de que a escolha tenha sido acertada. Apenas quando os interesses pessoais são afectados é que saem desta apatia cívica em que mergulharam. Neste país passivo e abúlico, bem mais difícil é seguramente a mobilização por causas relativas ao bem comum. Mas o esforço vale a pena, pois a união é sempre uma arma poderosa.

«Já repararam que nós, normais cidadãos peticionários, conseguimos que todos os grupos parlamentares discutissem este assunto (aparentemente de âmbito local) num dos órgãos máximos de soberania nacional? Afinal é possível agir como cidadãos. Mas para isso é fundamental a persistência. E é isso que precisamos de ter, a partir de agora, persistência e vigilância. E sair do sofá para mostrar que estamos mesmo empenhados nesta causa», pode ler-se na página do Facebook do movimento “Salvem as Sete Fontes” [agora "Salvemos as Sete Fontes"], que lançou a petição.

Esperemos que os bracarenses continuem a mostrar que são mesmo cidadãos, mobilizando-se por esta e por muitas outras causas que merecem que todos se levantem do sofá. E que os políticos saibam estar à altura...

[Publicado no Diário do Minho, 11 de Outubro de 2010]