segunda-feira, 21 de março de 2011

O cliente serve para pagar os prejuízos...

 
© Luísa Teresa Ribeiro


 Quem usa o comboio como meio de transporte anda por estes dias à beira de um ataque de nervos. As greves começaram no mês passado e, segundo o site da CP, vão prolongar-se até ao final de Março. Nas estações já se fala, no entanto, em Abril.

Esta greve prolongada está a causar transtornos a quem pretende usar os comboios para se deslocar e dá de caras com uma placa a dizer “suprimido”. No caso de Braga, é flagrante a perturbação do serviço de Alfa Pendular, o que obriga os passageiros a ir até ao Porto para apanhar esse comboio. Perde-se muito tempo e comodidade, especialmente para quem tem de viajar com malas, mas descobrem-se coisas muito curiosas sobre o funcionamento da CP.

Quem quiser vir de Lisboa-Oriente para Braga e tiver comprado o bilhete do Alfa no Multibanco até Porto--Campanhã, na capital não consegue adquirir o título de transporte que lhe permite fazer o resto do trajecto num suburbano. Segundo os funcionários da empresa, as bilheteiras de Lisboa-Oriente não vendem esses bilhetes porque não têm ordem para vender e, mesmo que o fizessem, seria dinheiro deitado ao lixo porque os títulos de transporte têm validade de duas horas a partir da sua aquisição. Na prática, isto significa que ou as pessoas se arriscam a entrar no comboio sem bilhete ou vão para a fila e vêem o comboio a partir sem elas. Perante este absurdo, o serviço de atendimento a clientes limita-se a estender o livro de reclamações...

Mas há mais situações absurdas, que se traduzem em preços diferentes para o mesmo percurso, nos mesmos comboios. Se pedir um bilhete de Braga a Aveiro, tendo obrigatoriamente que mudar em Porto-Campanhã, paga 6,80 euros. Se tirar um bilhete de Braga a Porto-Campanhã (2,30 euros) e um bilhete de Porto-Campanhã a Aveiro (2,30 euros) paga 4,60 euros.

A par do encerramento de várias linhas com base em critérios economicistas, esta greve está a fazer mais pela ideia da privatização da empresa do que os discursos liberais todos juntos. Os cidadãos que pagam os prejuízos monstruosos da CP ficam revoltados ao ver que os serviços que lhes são prestados estão muito longe de justificar o dinheiro que para ali é canalizado. Se as pessoas são obrigadas a pagar a factura, mesmo que até nem usem os serviços, é urgente começar a exigir mais eficiência e qualidade às estruturas públicas. Afinal, se elas não existem para servir a população, existem para quê?

[Publicado no Diário do Minho, 7 de Março de 2011]

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