domingo, 9 de janeiro de 2011

Feche-se o interior do país

© Luísa Teresa Ribeiro

«Foram-se os centros de saúde, os correios, as escolas primárias. Chegou agora a vez dos comboios. Em algumas terras do interior o pouca-terra vai deixar de apitar porque a CP decidiu suprimir a sua oferta onde ela é especialmente deficitária. O mapa ferroviário português vai voltar a encolher, deixando ainda mais a descoberto extensas áreas do país».

Este é um excerto de uma reportagem do “Público” sobre os 356 quilómetros de linhas de comboio que vão ficar sem serviço regional, dos quais 144 desaparecem do mapa ferroviário e 212 mantêm ainda comboios de mercadorias e serviços de longo curso. O encerramento é uma forma de reduzir custos, já que, segundo a mesma fonte, em 2010, o serviço regional deu prejuízos de 56,6 milhões de euros.

Numa altura em que os cofres públicos estão numa situação deplorável, mas em que há desperdícios por todo o lado, os cortes cegos são a solução mais fácil. Mas quando se trata de encerrar serviços básicos, as contas não podem ser feitas olhando apenas para o dinheiro que se vai conseguir poupar.

Como refere o presidente da Câmara de Cantanhede, nessa reportagem, se os critérios económicos forem os únicos a ser tidos em conta na decisão de fechar as linhas, «então mais vale encerrar o interior e vai tudo para o litoral». E é, infelizmente, disso que se trata, mesmo quando os impostos são iguais para todos, independentemente dos serviços com que pode contar.

Recorde-se, por exemplo, uma reportagem do “Diário de Notícias”, de Agosto, que falava de terras que já tiverem maternidade e hoje nem farmácia têm, obrigando a população, maioritariamente idosa, a percorrer dezenas de quilómetros para ter acesso aos serviços de saúde.

O mesmo se verifica com o encerramento das escolas, fazendo com que as crianças percorram distâncias infinitas em duvidosas condições de segurança. É do senso comum que o fecho da escola é a machadada final na vitalidade das aldeias, mas estamos num país onde o bom senso é coisa rara.

Se a actual linha de actuação se mantiver, depois do anunciado fim dos comboios, ainda havemos de ver tarifários diferenciados para levar cartas às zonas mais remotas ou a água a preços exorbitantes em concelhos onde o precioso líquido é abundante, à semelhança do que hoje se passa com municípios onde é produzida electricidade, mas que têm abastecimentos miseráveis. Se esta é a estratégia de desenvolvimento que temos, então mais vale assumir de uma vez por todas que o interior do país é para fechar.

[Publicado no Diário do Minho, 7 de Janeiro de 2011]