Investigadora da UM estuda representação das mulheres na imprensa
Apesar de estarem em maioria na sociedade portuguesa, as mulheres continuam na penumbra mediática. Os elementos do sexo feminino aparecem menos vezes e quando lhes é dado espaço surgem normalmente associados a imagens como as de vítimas ou de mulheres “fatais”. Este é um fenómeno que parece ser transversal a diferentes tipos de jornais, quer nos textos quer nas fotografias, e que levanta sérias questões ao nível do pluralismo que deve pautar a actuação dos meios de comunicação social.
Estas ideias são defendidas pela investigadora da Universidade do Minho Carla Cerqueira, que tem analisado o tratamento das vozes femininas na imprensa. A fazer o doutoramento em Ciências das Comunicação, centrada na análise da cobertura mediática do Dia Internacional da Mulher desde 1975, a especialista em estudos de género defende que «o discurso jornalístico contribui para a invisibilidade das mulheres», uma vez que, mesmo quando elas aparecem, «são secundarizadas e é visível a falta de diversidade de papéis e de posições».
Carla Cerqueira analisou a primeira página do “Público” e do “Correio da Manhã”, em Março, Abril e Maio de 2007, tendo concluído que, «curiosamente, não existem diferenças muito marcantes entre os dois jornais, embora um seja enquadrado na imprensa de referência e outro seja considerado de cariz popular».
A bolseira de investigação analisou 253 notícias, que continham 1.046 fontes, das quais 150 eram mulheres. «O jornal de referência está mais centrado nas fontes oficiais, enquanto o jornal considerado popular aposta mais nas vozes do cidadão comum». «A imprensa não dá voz às “actoras” sociais e quando o faz é em situações em que elas são as detentoras de determinado cargo (porque o segmento institucional continua a ser maioritário) ou porque é importante “emocionalizar” a esfera pública e, no entender dos “media”, elas desempenham muito bem essa função», afirma.
A investigadora refere que «as mulheres apareceram em várias temáticas na primeira página, sendo que elas foram escolhidas maioritariamente nos Casos de Polícia nos dois jornais e só estiveram em maioria nos assuntos da Educação do “Público”». Nas áreas com grande peso jornalístico, como é o caso da economia, as mulheres não foram ouvidas. «As mulheres que surgiram como fontes de informação nestes três meses de análise falaram em vários temas, não se pode dizer que tivessem grande expressão em nenhum deles», adverte.
«Independentemente da posição editorial do jornal, as mulheres ainda estão longe da igualdade no acesso ao discurso mediático, ou seja, ainda estão protegidas pelo chamado “tecto de vidro”», constata.
Foto DR
[Artigo publicado no Diário do Minho de 4 de Novembro de 2008]
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