sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Discurso jornalístico reproduz atitudes que legitimam a dominação masculina

A investigadora Carla Cerqueira sublinha que «o discurso jornalístico reproduz atitudes e ideologias que legitimam a dominação masculina, bem patente nos actores sociais que são ouvidos e naqueles que são invisíveis». «É necessário ter atenção não só a quem os jornalistas escolhem como fontes, mas também do que falam essas pessoas quando são citadas ou mencionadas na imprensa», adverte.

A bolseira de investigação recorda que «os meios de comunicação reflectem o contexto sócio-cultural e a mentalidade de cada época», mas interroga-se se eles «não têm um papel a desempenhar no que se refere à promoção da igualdade de género». «A maioria das pessoas informa-se através deles, por isso continua a perpetuar o mesmo cenário de há vários anos, em que as mulheres ficam circunscritas à penumbra e a palavra é dada aos homens», afirma.

Alguns investigadores depositavam a esperança de que a realidade mudasse com a chegada das mulheres às redacções, o que não se veio a verificar. Carla Cerqueira ressalva, no entanto, que a maioria dos cargos de chefia no campo mediático continua a ser ocupada por homens. «O que se tem vindo a verificar é que as jornalistas aprendem e reproduzem as representações existentes, recorrendo às mesmas fontes, o que traduz uma visão masculina hegemónica», diz.

Em seu entender, é importante questionar se «os “media” são uma janela aberta ou entreaberta para o mundo, uma vez que os pontos de vista femininos raramente são ouvidos nos temas que dominam a agenda noticiosa». «É preciso que apareçam mais vozes e de forma mais diversificada, dando cumprimento a um dos pilares do jornalismo, que é o pluralismo. No actual cenário, os “media” continuam a perpetuar a situação de desigualdade entre homens e mulheres em vez de contribuírem para a sua atenuação», afirma.


[Artigo publicado no Diário do Minho de 4 de Novembro de 2008]

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