Reflexões em torno da comunicação, nas suas mais variadas formas, e não só. Um exercício de cidadania. Por uma jornalista, que será sempre a culpada. Pelo menos por aqui...
terça-feira, 4 de novembro de 2008
Dia da Mulher com pouco debate
Carla Cerqueira analisou como é que as mulheres foram representadas pelo discurso jornalístico no Dia Internacional na Mulher de 2006, no “Público”, “Diário de Notícias”, “Jornal de Notícias” e “Correio da Manhã”.
«A representação das mulheres nos “media” já tem sido estudada por vários/as investigadores/as, mostrando que a discriminação e os esteriótipos, embora cada vez mais subtis, continuam a existir. Mas é importante ver se na comemoração da efeméride o panorama é diferente, porque se trata de um dia excepcional. É interessante perceber o que é que tem visibilidade e marca a agenda mediática nessa data», afirma.
A investigadora constatou que «no Dia Internacional da Mulher não se chegam a discutir as reais condições de (des)igualdade que perpassam os vários sectores da sociedade». «O que transparecem são fragmentos descolados do universo feminino e que a imprensa procura forjar de forma a dar uma imagem de unidade aparente no que se refere à condição das mulheres na sociedade contemporânea», afirma.
No “Público”, «as questões de género cruzam-se com assuntos políticos, económicos e militares, sendo que a tónica é sempre a questão da emancipação (casos excepcionais) ou da desigualdade». «Este jornal quer dar a conhecer alguns feitos alcançados por elas. Baseia-se muito nas estatísticas, mas quase todos os títulos e leads mostram os aspectos positivos. Releva-se uma mulher que quer triunfar, embora ainda esteja muito longe da igualdade», explica.
Já o “Diário de Notícias” «mostra que as mulheres que chegam aos cargos de chefia são casos excepcionais. As mulheres no mundo desportivo também são casos raros, sendo que o jornal recorre a alguns estereótipos sexistas para retratar a realidade nacional».
Na cobertura do “Jornal de Notícias” o destaque vai para «os problemas sociais». «Este jornal apresenta uma abordagem mais negativa no tratamento da efeméride. Os casos de sucesso são quase esquecidos e a tónica é dada às vítimas de violência doméstica, com uma reportagem onde se dramatiza a situação de algumas mulheres que vivem em Casas de Abrigo», acrescenta.
A estratégia do “Correio da Manhã”, por seu turno, «demarca-se dos restantes jornais, uma vez que apenas noticia de forma muito breve e factual dois eventos que marcam o Dia Internacional da Mulher», para «mostrar duas homenagens a mulheres em cargos tradicionalmente masculinos, como é o caso das Forças Armadas».
A investigadora comparou igualmente a cobertura de 2006 e 2007 no “Diário de Notícias” e “Jornal de Notícias”, tendo constatado que o facto de se comemorar o Ano Europeu para a Igualdade de Oportunidade para Todos em 2007 não se traduziu em mudanças significativas face a 2006. Verificou-se a existência de um menor número de notícias, traduzindo a menor relevância atribuída à efeméride.
A especialista em estudos de géneros debruçou-se também sobre as imagens que o “Diário de Notícias” e o “Jornal de Notícias” publicaram na rubrica sobre do Dia da Mulher e no restante jornal. «Em 2006, ambos os jornais publicaram “mulheres-objecto” ou mulheres que, apesar de terem entrado na esfera pública, continuam a ser vistas como mães/esposas/donas de casa. No caso do Dia da Mulher, elas aparecerem como trabalhadoras de sucesso, mas de uma forma estereotipada. A maior parte das imagens de mulheres continuam a aparecer em rubricas relacionadas com a esfera íntima (relacionamentos amorosos, moda ou estética)», salienta.
Fotos DR
[Artigo publicado no Diário do Minho de 4 de Novembro de 2008]
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