Reflexões em torno da comunicação, nas suas mais variadas formas, e não só. Um exercício de cidadania. Por uma jornalista, que será sempre a culpada. Pelo menos por aqui...
sábado, 22 de novembro de 2008
Chefes, mas poucas
Uma investigação sobre o perfil sociológico dos jornalistas portugueses, realizada entre Janeiro de 2005 e Fevereiro de 2008, indica que 59% são homens e 41% mulheres, sendo 80 por cento dos lugares de chefia ocupados por elementos do sexo masculino.
Segundo o trabalho da equipa liderada por José Rebelo (ISCTE), os homens são muito mais numerosos dos 35 anos para cima e as mulheres são mais numerosas dos 20 aos 35, o que revela uma tendência para a feminização da profissão. Segundo os dados da Comissão da Carteira, de 2002 a 2006, ingressaram 58,2% de mulheres na profissão.
O último número da revista Trajectos apresenta o estudo "A 'feminização' do jornalismo em Portugal", que confirma a perspectiva traçada noutros trabalhos, como o de Maria João Silveirinha (Universidade de Coimbra).
Na revista “Media & Jornalismo” (Outono-Inverno 2004), eram apresentados dados que indicavam que o número de mulheres nas redacções tinha aumentado 20 por cento nas duas últimas décadas, representando, na altura, cerca de 39 por cento dos jornalistas com carteira profissional.
A predominância dos homens nos cargos de chefia na comunicação social não é, contudo, um fenómeno somente nacional. Por exemplo, um estudo realizado pela Fawcett Society revela que, na Grã-Bretanha, poucas das decisões editoriais cruciais ou das escolhas que determinam a agenda em matérias como a política ou questões da actualidade são tomadas por mulheres.
Num sector sempre pronto a denunciar os problemas dos outros, estes números devem ser um motivo para uma séria reflexão, nomeadamente, sobre a (in)existência de igualdade de oportunidades e sobre as condições para o exercício da profissão, numa sociedade em que é exigida à mulher uma dupla jornada de trabalho (dentro e fora de casa).
A merecer igual reflexão estão os estudos que mostram que os “media” dão menos espaço às vozes femininas do que às masculinas e que representam as mulheres de forma esteriotipada e pouco representativa dos papéis que desempenham na sociedade.
Tal como já houve quem esperasse que o aumento do número de mulheres nas redacções se traduzisse num tratamento mediático menos desfavorável do sexo feminino, também há agora quem deposite a esperança na sua (inevitável) chegada aos cargos de chefia.
Embora a questão dos números seja importante, a questão cultural é aquela que se afigura como absolutamente decisiva para alterar o actual panorama. E a mudança de algo tão enraizado não se consegue ficando de braços cruzados, à espera que o tempo passe. Tomar consciência de que o problema existe é um bom começo...
[Versão de artigo publicado no Diário do Minho de 19 de Novembro de 2008]
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