segunda-feira, 12 de maio de 2008

Jornalistas e/ou comentadores?

O director da Rádio Universidade apresentou queixa ao inspector-geral da Administração Interna e à Entidade Reguladora para a Comunicação Social depois de alegadamente ter sido impedido de gravar declarações e de colocar questões ao comandante da PSP do distrito de Vila Real, durante uma cerimónia pública, da qual terá sido, aliás, intimado a retirar-se.

Segundo o JN de quarta-feira, na base desta atitude do agente da autoridade terá estado um artigo de opinião publicado pelo jornalista Luís Mendonça no jornal “A Voz de Trás-os-Montes”, que pode ser encontrado aqui, crítico em relação à actuação da PSP de Vila Real.

Este episódio lamentável vem pôr mais uma vez na ordem do dia a falta de cultura democrática por parte de algumas pessoas que ocupam cargos com responsabilidade na manutenção do Estado de Direito. É curioso verificar que alguns dos que frequentemente usam o chavão da liberdade opinião e de expressão se sentem terrivelmente incomodados quando se exercitam esses direitos.

O caso chama também a atenção para a questão delicada que se põe quando os jornalistas se transformam em comentadores, algo que merece, por exemplo, referência no Livro de Estilo do Público, na secção relativa aos conflitos de interesses (pag. 30 e 31), e que já tinha sido abordada aqui.

É inegável que os jornalistas também são cidadãos e, como tal, têm o direito de expressar as suas opiniões. O facto de um jornalista apresentar o seu ponto de vista aumenta a transparência do trabalho que realiza, uma vez que os consumidores da informação têm mais dados para julgar o produto que lhes é apresentado.

Há, no entanto, o reverso da medalha. O já frágil equilíbrio da actividade profissional dos jornalistas – permanentemente no fio da navalha entre muitos jogos de interesses – torna-se ainda mais periclitante. A partir do momento em que o jornalista se transforma em comentador, será certamente mais difícil escudar-se na retórica da objectividade para se defender de eventuais críticas.

Não será lícito que uma fonte se recuse a falar com um jornalista que disse publicamente não acreditar nas afirmações do seu interlocutor?

[Publicado no Diário do Minho a 11/05/2008]

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