quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

A importância da opinião


É absolutamente fascinante ficar num café, felizmente agora sem fumo, a ver como é que as pessoas lêem um jornal. Há os que começam pela primeira página, os que preferem a última, os que se demoram na necrologia, os que procuram a parte de desporto... E há também os que folheiam os jornais até encontrarem as páginas de opinião, verdadeiros quebra-cabeças em termos gráficos, uma vez que vivem de textos mais longos e difíceis de ilustrar.

Num tempo em que as notícias nos chegam cada vez mais instantaneamente através de diversas vias, desde a rádio, televisão, à internet, sem esquecer os serviços para telemóvel, e em que os jornais dão sobretudo as informações do dia anterior, a opinião é uma das áreas que não pode ser negligenciada.

Muitos meios de comunicação social apostam na opinião para captar leitores. As “aquisições”, normalmente nomes conhecidos do grande público e “roubados” à concorrência, são bem promovidos. No caso da imprensa, muitas vezes estes artigos não aparecem online. Quem quiser esta mais-valia tem de adquirir a publicação. Nada mais justo.

No entanto, também é possível encontrar casos em que personalidades muito interessantes são dispensadas sem qualquer motivo aparente. Quem não se lembra do fim abrupto dos textos de Joaquim Fidalgo no “Público” ¬– anunciado pelo próprio na coluna que mantinha: «É chegada, dizem-me, a hora de partir. Parto então. E, como o meu amigo da história, não com um “adeus” mas com um “até logo”. A gente vê-se, ou a gente ouve-se, lê-se, fala-se por aí» – e dos consequentes protestos na blogosfera (sobretudo no Jornalismo & Comunicação)?

Outros há que recorrem à “prata da casa” e transformam os jornalistas em comentadores. Este fenómeno foi realçado por José Carlos Abrantes no artigo de despedida de Provedor do Leitor do Diário de Notícias (12/6/2007, pag. 10 e 11).

«Está muito em voga em Portugal uma tendência contestável, em que o DN não é excepção. Ocupa-se excessivo espaço de opinião com a opinião de jornalistas. Ressalvo que há comentadores de qualidade entre estes. Mas também é mais barato, por vezes. Compreendo também que haja necessidade de renovar os colunistas.

Em tempos mais recuados, nos anos 90, eu próprio fui forçado ao silêncio que me foi imposto, uma vez no DN e outra no Público, embora em condições muito diferentes.

Outros cronistas surgem, por vezes, com proveito para os jornais. Sabemos por um estudo de Rita Figueiras que os cronistas tendem a eternizar-se com manifesto afunilamento do leque de opiniões. O problema é que opiniões da sociedade civil como as de, por exemplo, Vicente Jorge Silva ou José Medeiros Ferreira, de Ruben de Carvalho ou de Marta Crawford, desapareceram e estão a ser substituídas pelas opiniões de jornalistas no activo.

Os jornalistas que fazem as notícias estão a assumir um protagonismo excessivo e a afastar opiniões qualificadas, pois o espaço no papel é restrito. Importa sublinhar que esta é uma tendência generalizada, na rádio, como na televisão e na imprensa escrita. Os jornalistas substituem cada vez mais especialistas conceituados que queimaram as sobrancelhas a estudar os problemas. Não é o recurso à opinião dos jornalistas que é o problema. O problema é que a discussão pública, por vezes, fica empobrecida porque os jornalistas afastam os não jornalistas dessa discussão».


O texto completo pode ser encontrado aqui.

Cada um aposta no que quer. Os leitores são soberanos.


(Versão de artigo publicado no Diário do Minho, 9/1/2008)

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