Novos caminhos da participação cívica a partir da blogosfera

“Os novos caminhos da participação cívica a partir da blogosfera: o Avenida Central” foi o tema da comunicação que apresentei, ontem, nas III Jornadas Internacionais de Jornalismo da Universidade Fernando Pessoa, no Porto, subordinadas ao tema "Jornalismo e Democracia Representativa".

O trabalho centrou-se na Petição pelo Regresso do Eléctrico, lançada em Setembro de 2007 pelo blogue Avenida Central, que reuniu mais de 820 assinaturas e mais de três centenas de comentários em 41 posts com a tag “Pelo Regresso do Eléctrico”, suscitou posições dos órgãos autárquicos e dos partidos políticos e motivou inúmeras referências nos media.

A metodologia incluiu a análise de posts e comentários do blogue Avenida Central com a tag “Pelo Regresso do Eléctrico” e dos artigos publicados pelos dois diários regionais com sede em Braga (Correio do Minho e Diário do Minho) e por dois jornais de âmbito nacional (Jornal de Notícias e Público).

A partir desta análise, apresentam-se algumas conclusões:

• Os blogues são um fenómeno global. A blogosfera está em crescimento mesmo em países com restrições à liberdade de expressão.

• Este movimento teve como consequência o alargamento do espaço público, num contexto marcado pela fragmentação.

• Para além das potencialidades de expressão individual, os blogues também são um instrumento para reflexão acerca da Polis. As redes criadas pelas novas tecnologias proporcionam condições para a reinvenção da participação cívica.

• A Internet poderá ser um bom meio para envolver os cidadãos nas questões políticas, das quais andam tantas vezes afastados, como demonstram os valores da abstenção nos actos eleitorais.

• As forças políticas bracarenses começam a seguir o que se passa na blogosfera, marcando também presença nesse meio.

• O silêncio de instituições às quais foi enviada a petição e solicitada a participação num debate que teve origem na sociedade civil contrasta com a intervenção das estruturas políticas.

• A auscultação não pode ser meramente formal, mas daí devem advir consequências políticas. Um processo iniciado em Setembro de 2007 continua em aberto a meio de Março de 2008, embora tivesse sido anunciado que os resultados do estudo de mobilidade seriam conhecidos no final do ano passado ou início de Janeiro.

• Da blogsfera vêm sinais de vontade de promover um debate cada vez mais amplo e plural, mesmo que, para já, ainda envolva um número limitado de pessoas, muitas das quais participam sob a capa do anonimato ou de nicks.

• Muita da visibilidade das iniciativas da blogosfera dependem da divulgação pelos meios de comunicação social.

• Os media têm de estar atentos ao que se passa na blogosfera, sob pena de deixarem de noticiar uma parte da vida colectiva (a primeira notícia sobre este tema foi dada por um jornalista-blogger).

• Os meios de comunicação devem repensar a questão dos temas que incluem na sua agenda. Embora muitos blogues continuem a ser repositórios de questões pessoais, que não têm interesse do ponto de vista jornalístico, outros há que são o barómetro de uma comunidade, na medida em que são a face visível da participação cívica de um grupo mais ou menos vasto de cidadãos.

• Há novas possibilidades para o jornalismo, que ainda não foram exploradas.

Em síntese, o trabalho permite perceber as potencialidades que os blogues têm como catalisadores da participação cívica, que não se esgota nas estruturas partidárias, e demonstrar que a blogosfera se apresenta como um desafio para os meios de comunicação social, nomeadamente a nível local e regional.

Mais sobre as III Jornadas Internacionais de Jornalismo da Universidade Fernando Pessoa no DN, no JN e no Indústrias Culturais (aqui, aqui e aqui).