Os “bastidores” são, seguramente, um dos aspectos mais fascinantes do jornalismo. O trabalho de campo, o ambiente de redacção ou os procedimentos técnicos para que a informação seja difundida são questões, regra geral, desconhecidas do público. As pessoas só têm acesso ao produto final, sem perceberem como é que ele foi feito.
Nesse, como noutros aspectos, o trabalho dos provedores dos leitores tem sido muito útil, na medida em que permite levantar o véu sobre as rotinas de trabalho. Saber como as coisas são feitas é meio caminho andado para que haja uma percepção mais esclarecida do que se está a consumir.
Por isso, vou partilhar convosco uma parte de dois dias na vida de um jornalista.
O trabalho começa com o contacto com o assessor de comunicação da estrutura regional A, que remete para o coordenador regional do programa B. O coordenador regional reenvia para o gabinete C, onde os dados estão centralizados. O gabinete C diz que é com o coordenador nacional, a pessoa D, que trabalha no serviço E. A equipa de D – pressupõe-se que composta por funcionários de E – acha estranho que o gabinete C não dê informação, porque é lá que os dados estão, mas de qualquer forma pede um e-mail. Contactado novamente o gabinete C, é explicado que a responsável F, a assessora G e mais-não-sei-quem estão ausentes e um mero administrativo nada pode fazer. O caso poderá mudar de figura se a informação for pedida, por exemplo, pelo Ministério H, que tutela todos os serviços já abordados.
Entra-se, então, em contacto com assessor I, que constata que o caminho seguido até àquela altura é o correcto e que se a equipa de D pediu um e-mail é porque vai responder. Como a informação tarda em chegar, e depois de mais umas pesquisas, telefona-se para a assessoria do serviço E. Já no fim da tarde do segundo dia de contactos, numa altura em que é absolutamente impossível atender o telemóvel, vê-se o número do serviço E a chamar. Telefona-se de volta. A assessoria de comunicação já não está e alguém da equipa de D fica eternidades ao telefone («não é certamente de trabalho», diz a telefonista). Afinal, a secretária de D está numa reunião, pelo que nada feito. Quando a esperança já está perdida, eis que ao terceiro dia chega um e-mail do serviço E a dizer que não há os números regionais que tinham sido solicitados. Pelo meio, ficaram contactos que dão para completar o abecedário e dois dias de trabalho... para nada.
Para a melhor compreensão do trabalho dos jornalistas, os "consumidores de informação" também devem estar consciente de que há locais onde os telefones dos chefes de serviços públicos estão sempre ocupados, dia após dia, que há estruturas onde as chamadas telefónicas caem "acidentalmente" a menos que sejam passadas da administração e que há cada vez mais autorizações que é preciso pedir por escrito, num tempo de alegada luta contra a burocracia. Pois, há tanto para falar...
Continua...
(Versão do artigo publicado no Diário do Minho de 12/03/2008)
1 comentário:
Desculpe, passei para conhecer o blog e dizer que
O AUTISMO EXISTE!
AROMAS DE PORTUGAL
"O Autismo é definido como “uma desordem neuro-desenvolvimental caracterizada pelo enfraquecimento nas relações sociais, linguagem, e pela presença de um comportamento repetitivo e estereotipado."
saudações e um sorriso
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