sábado, 29 de março de 2008

Elites são piores do que no século XIX

Sande Lemos defendeu que o país precisa de elites que «comecem a pensar o território e como é que o podem desenvolver». Só que, na sua opinião, Portugal não tem neste momento «elites capazes». «As do século XIX eram muito melhores», afirmou. Como exemplo dessa falta de perspicácia, o arqueólogo referiu o desmantelamento do Instituto Geológico Mineiro porque era uma área que supostamente não interessava, quando agora há empresas a procurar ouro, pois o preço deste metal precioso subiu em flecha.

Fernando Alexandre argumentou, por seu turno, que «cada povo gera as elites que consegue», uma vez que elas advêm do «povo, das estruturas e das instituições». Na sua opinião, à semelhança do que se passa na sociedade em geral, nas elites portuguesas ainda vigora a ideia de que «ter um olho é ser rei», quando se deveria privilegiar a partilha de informação e a ambição. «Ninguém consegue processar toda a informação para tomar decisões, pelo que se deve fazer com que a informação circule e haja transparência nas instituições», afirmou.

«Os portugueses são muito hábeis a desperdiçar recursos e informação», corroborou Sande Lemos, admitindo que se surpreende com o facto de haver decisões que são tomadas «sem dados». O economista explicou que outro dos problemas nacionais se prende com a baixa escolaridade: na região Norte, 30 por cento da população activa tem quatro anos de escolaridade. Em 2003, 50 por cento dos encarregados de educação dos alunos da Universidade do Minho tinham apenas o primeiro ciclo. O cenário da qualificação não tenderá a melhorar substancialmente, com 40 por cento dos jovens a deixarem os estudos no 9.º ano.

Fernando Alexandre explicou que Portugal tem, desde o final do século XIX, um rendimento de 70 a 75 por cento da média dos países europeus, o que não é fácil de manter. Usando a terminologia aplicada por um aluno, o docente referiu que «Portugal tem muitos “nabos”, mas também um conjunto significativo de pessoas que não são “nabos”».

O universitário argumentou que «os portugueses são pouco competitivos. Vêem a competição como negativa, quando é boa». «É preciso ter grandeza de espírito», declarou, embora reconhecendo que «se calhar, o problema está mesmo no povo».

(Publicado no Diário do Minho de 27/02/2008)

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