quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Prémio para jovem designer


A designer de 31 anos Liliana Guerreiro venceu o Concurso Internacional de Design “Reanimar a Filigrana”, integrado no evento “Póvoa de Lanhoso – Terra do Ouro”, que decorreu este fim-de-semana. Para além do grande prémio, a jovem de Paredes de Coura recebeu ainda uma menção honrosa.

O primeiro prémio foi arrecado com um colar em malha de filigrana de prata. O júri atribuiu-lhe este galardão pela «criatividade do seu trabalho, bem como pelo seu investimento continuado na revitalização da filigrana». Um conjunto de três alfinetes em filigrana de ouro, prata e prata oxidada garantiu-lhe, por seu turno, um menção honrosa.

A artista junta assim mais distinções ao seu currículo, onde constam nomeadamente dois galardões atribuídos pela Feira Internacional de Artesanato.

Liliana Guerreiro explica que sempre gostou muito de jóias e desde pequena que acalentava o sonho de trabalhar em algo ligado a esta área. O sonho transformou-se em realidade e hoje tem o raro privilégio em Portugal de viver da criação de jóias.
Quando ingressou na Escola Superior de Arte e Design (ESAD), começou a frequentar uma oficina de joalharia. E com isto ganhou uma certeza renovada de que as jóias seriam o seu futuro. Acabou por fazer parte do primeiro grupo de pessoas com formação superior em joalharia em Portugal.

Ao sair da universidade tinha a certeza de que não queria ir trabalhar para empresas — até porque, diz, há sete anos não havia empresas interessadas no trabalho de designers de joalharia — ou dar aulas. Estava determinada a criar o seu próprio emprego. Começou a fazer peças únicas, que vendia aos familiares, que por sua vez foram angariando novos clientes.

Depois de exposições em galerias, já com a sua marca, surgiram as feiras de artesanato em Portugal e em Espanha. «Nas feiras, as pessoas não partem do pressuposto de que as peças são caríssimas. Para além disso, há uma relação mais próxima do que nas galerias, pois podem experimentar as peças», explica.

Forma contemporânea
para técnica ancestral


Há cerca de três anos, os caminhos de Liliana Guerreiro cruzaram-se com os da filigrana, através do projecto “Leveza – Reanimar a Filigrana”, desenvolvido pelo Museu do Ouro e pela ESAD. «Como gostei imenso de trabalhar a filigrana, passei metade do meu tempo a trabalhar na Póvoa de Lanhoso com dois artesãos», diz.
Das do mãos «grupo de trabalho», como lhe chama, saem peças «feitas com uma técnica muito antiga e bastante conhecida, mas com um desenho contemporâneo», que têm cativado os especialistas e não só.

Liliana Guerreiro não desenha as peças que idealiza. Faz maquetes e começa a trabalhar com os materiais. Este é o ponto de partida para o trabalho com os artesãos. «Estou a trabalhar com pessoas que toda a sua vida tiverem este ofício e que fazem muito bem as peças antigas», refere.

Só que as formas que a artista propõe apresentam novos desafios para Joaquim e Guilherme Rodrigues da Silva. São mais difíceis porque «é preciso arranjar forma de fazer coisas que parecem simples, mas que do ponto de vista técnico não são fáceis de fazer». Contabilizando, acabam por ser horas a fio para dar forma a peças que aos olhos dos leigos parecem fáceis de fazer, o que se reflecte no preço. As peças da artista variam entre os 30 e os mil e poucos euros.

Rendida ao desafio de dar novas formas a uma técnica ancestral, Liliana Guerreiro perspectiva que ainda vai «continuar por muito tempo» dedicada à filigrana. «Houve um decréscimo muito grande nas vendas, porque as pessoas já não compram tanto ouro e porque as formas tradicionais não se adequam à roupa. Tem de haver uma mudança na filigrana, para que possa conquistar novos públicos e é esse esforço que está a ser feito», sublinha.

Em seu entender, será uma pena se a arte se perder, uma vez que «há artesãos que trabalham muitíssimo bem». A designer salienta que, durante muitos anos, o artesanato esteve estagnado em Portugal, ao contrário do que se verificou, por exemplo, em Espanha.

Um levantamento efectuado há cerca de cinco anos apontava para a existência de cerca de 40 oficinas de ouro na freguesia de Travassos. Na actualidade, haverá 25, às quais se juntam mais 15 da localidade de Sobradelo da Goma.

A prata, o ouro e as resinas (por causa das cores) são os materiais dos quais Liliana Guerreiro mais gosta. E o público tem aprovado as opções. «As pessoas têm uma grande necessidade de andar com coisas bonitas, até para florearem a vida em tempo de crise. Tal como se muda constantemente de roupa, também cada vez mais as pessoas mudam de jóias, até porque muitas das peças não são caras», afirma.

O trabalho da designer pode ser encontrado em Liliana Joias
Alfinetes

Aneis
Brincos
Colares

Para ver ao vivo, no fabuloso espaço Wabi Sabi, no Mercado Cultural do Carandá, em Braga

29/05/2007 (data de publicação)

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