Reflexões em torno da comunicação, nas suas mais variadas formas, e não só. Um exercício de cidadania. Por uma jornalista, que será sempre a culpada. Pelo menos por aqui...
quarta-feira, 5 de dezembro de 2007
(In)Consciência
A cena passa-se na Torre da Cadeia Velha, em Ponte de Lima, já a horas avançadas, seguramente muito tempo depois de “Os patinhos” terem avisado os meninos do momento de “nanar”. Adultos, com ar arrepiado, percorrem uma exposição de objectos medievais de tortura. Ao seu lado, crianças olham descontraidamente para os instrumentos, com ar sabichão de quem até já percebe mais do assunto do que os “grandes”.
Esta realidade não pode deixar de nos interpelar. Poder-se-á dizer que as crianças, ao contrário dos adultos, não tinham consciência do que estavam a ver e, portanto, mantinham um ar de quem iria dormir sem pesadelos. Outra possibilidade, seguramente mais inquietante, é que essas crianças estão habituadas a ver coisas tão ou mais arrepiantes nos múltiplos ecrãs que fazem parte das suas vidas desde a mais tenra idade.
Quantas mortes e cenas de tortura já viram aqueles miúdos ao longo da sua curta existência? Eduardo Jorge Madureira Lopes lembrava, num artigo do “Boletim Público na Escola”, de 2003, um trabalho da revista espanhola “El Semanal”. O artigo fazia referência a uma investigação realizada pela Associação de Telespectadores e Radiouvintes que indicava que, numa semana, uma criança espanhola contemplava 670 homicídios, 420 tiroteios, 48 sequestros, 30 actos de tortura, 19 suicídios, 18 imagens relacionadas com o consumo e tráfico de droga e 11 roubos de tipologias variadas.
Outro estudo, promovido pela Associação Espanhola de Pediatria, referia que as crianças entre os dois e os cinco anos viam televisão 25 horas por semana, que incluíam 32 cenas de violência por dia, o que anualmente correspondia a um total de 12 mil referências violentas, 14 mil sexuais e duas mil de incitação ao consumo de bebidas alcoólicas.
Os números não deverão ser muito diferentes agora, em Portugal. A questão que se coloca é a de saber se os pais vão continuar de consciência tranquila quando deixarem os seus filhos entregues livremente a essa “ama” universal que é a televisão e assobiarem para o ar cada vez que alguém falar de educação para os “media”. O nosso futuro colectivo dependerá desta resposta…
12/06/2007
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