quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

«Justiça tem passado sinais altamente preocupantes»


Obras sobre comunicação apresentadas na Feira do Livro de Braga

O director do Jornal de Noticias disse segunda-feira à noite que a «justiça tem passado sinais altamente preocupantes». Falando na apresentação dos livros “Casos em que o Jornalismo foi Notícia” e “Por detrás do ecrã – televisão para crianças em Portugal”, na Feira do Livro de Braga, José Leite Pereira afirmou que a justiça portuguesa «ainda não fez a aprendizagem democrática».

Numa sessão moderada pelo jornalista e professor universitário Joaquim Fidalgo, estiveram também presentes Manuel Pinto, também docente na UM e um dos coordenadores de “Casos em que o jornalismo foi notícia”, juntamente com Helena Sousa, a investigadora Sara Pereira, autora da obra sobre a televisão e as crianças, e Eduardo Jorge Madureira, responsável do projecto “Público na Escola”.

José Leite Pereira realçou que «o comportamento da justiça em Portugal é completamente anacrónico». E, para justificar esta afirmação, lembrou que o JN já teve casos em tribunal por causa de alegada violação do segredo de justiça e que os casos que foram julgados em Lisboa foram todos arquivados, enquanto os casos idênticos em julgamento no Porto continuam os seus trâmites.

Este responsável falou também da condenação do jornal Público. Em seu entender, «a sentença levada à letra» impediria que se escrevesse qualquer notícia. Por isso, os jornais deveria estar rodeados por «mil advogados».

O director considerou que o jornalismo português tem uma história de 30 e poucos anos de democracia e por isso ainda se registam erros, «estando ainda numa fase de aprendizagem, claramente uma fase de crescimento».

Sendo verdade que «o panorama jornalístico em Portugal é muito complicado», José Leite Pereira salientou que «o exercício do jornalismo é um exercício de confiança», quer nas fontes, quer a nível da hierarquia interna dos órgãos de comunicação.

O jornalista acrescentou que os jornais estão a registar a diminuição das vendas, mas curiosamente estão a ganhar mais audiência em termos de leitores.

Manuel Pinto, falando sobre a obra “Casos em que o jornalismo foi notícia”, salientou que a ideia «nasceu do refluxo do 11 de Setembro, sendo a lógica deste livro uma lógica de casos». O docente sublinhou a importância das questões éticas, qunado tudo à volta desmorona.

Já Eduardo Jorge Madureira, instado a apresentar o livro de Sara Pereira, descreveu de forma pormenorizada várias situações retratadas na obra e que demonstram que «o livro é fantástico e está escrito como se fosse uma espécie de documentário». «É uma obra imprescindível para compreender como é feita a televisão para crianças», disse.

Para Eduardo Jorge Madureira, «tendo em conta a importância da televisão na educação da criança, é absolutamente impressionante a falta de sensibilidade para isso por parte dos programadores». É que, no fundo, esta obra põe à evidência o sentido de marketing, porque as televisões têm em vista a criança/consumidor e não a criança/cidadão. «Parece que a televisão é um simples negócio e não tem responsabilidade social», alertou.

Sara Pereira aprofundou algumas das ideias deixadas por Eduardo Jorge Madureira, salientando que «é preciso reivindicar uma televisão de qualidade para as crianças, não uma programação para crianças adultas, mas uma programação para os assuntos que lhes interessam». É que, sublinhou, «o panorama actual levanta muitas preocupações». «Esta ainda é uma área menor no nosso país», afirmou, referindo-se à falta de estudos sobre a matéria.

«Este livro faz parte de uma história que é preciso continuar a construir», disse Sara Pereira, frisando que «é preciso que a televisão possa voltar a reencantar as crianças». Para que a história possa continuar a ser escrita, a investigadora está, juntamente com Felisbela Lopes, a tentar criar um observatório da televisão, que anualmente dê uma perspectiva da oferta televisiva.

26/04/2007 (data de publicação)

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