quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Jornalismo tem-se «transformado numa prática sensológica»


A docente da Universidade do Minho Madalena Oliveira constata que se o jornalismo tem «transformado numa prática sensológica», de que são exemplos o caso Casa Pia, a queda da ponte de Entre os Rios ou o desaparecimento da Maddie.

«Quando falamos mais de sensações e de emoções do que de factos ou ideias, os pontos frágeis do jornalismo estão mais à tona. É mais equívoco falar de emoções do que falar de factos. Os factos podem provar-se, as emoções não. Para além disso, é ao nível das emoções que corremos o risco de infringir o código deontológico», adverte a investigadora do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade.

«Se pensarmos na história do jornalismo português recente, a Casa Pia foi um dos casos que mais motivaram estes textos metajornalísticos. Foram inúmeras as colunas de opinião sobre o que os jornalistas fizeram, o papel que os jornalistas tiveram no desabrochar deste processo. Com o caso da Maddie estamos a assistir a alguma repetição do que se passou: a exploração exaustiva dos sentimentos dos pais, os directos excessivos do local onde nada acontece e muitas vezes aquilo que é o grau zero da informação», explica.

A professora salienta que «o jornalismo contemporâneo é um jornalismo dominado pelas novas tecnologias e pelos imperativos que lhe estão ligados. Madalena Oliveira considera pertinente «refazer a sociologia dos “media” para redefinir o papel que o jornalismo tem na aceleração do tempo, na comunicação das emoções».

«Há uma expressão de Manuel Maria Carrilho, num texto metajornalistico, que diz que o nosso tempo é o da “epifania do efémero”. Eu acho que o jornalismo actual é o jornalismo que promove esta epifania do efémero, que torna velho tudo o que não é do momento, que faz com que tudo ande muito mais depressa», acrescenta.

4/12/07 (data de publicação)

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