quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Espaço de reflexão diversificou-se


Madalena Oliveira estudou o espaço que o discurso metajornalístico ocupou nos jornais de 1996 a 2006. A investigadora recuou, no entanto, a 1994 para constatar que, nessa época, «as páginas dos “media” eram praticamente inexistentes, pelo menos no sentido em que existem hoje nos jornais».

«Os jornais começaram nos anos noventa a publicar páginas com a programação dos diversos canais de televisão, uma vez que foi essa a década em que apareceram as televisões privadas. Nessa altura, aparecia quase diariamente um comentário a um programa de televisão ou de rádio. Não havia propriamente uma secção, uma editoria de “media” ou televisão», afirma.

A investigadora diz que «é com o jornal “Público” que aparece a primeira página dos “media”. É a partir de 1997 que a prática destas secções se torna regular, com o aparecimento da figura do provedor do leitor, com Mário Mesquita. Antes, em 1992, já tinha havido uma experiência de provedor do leitor num jornal desportivo, mas a prática generalizou-se só no fim da década».

«É com a prática do provedor e com a sistematização de editorias de “media” que começam a ser cada vez mais frequentes as notícias sobre os próprios jornalistas e os “media” como campo. Em termos de temáticas, estamos a falar de derrapagens ético-deontológicas, do lançamento de livros e programas de televisão, de congressos, de acontecimentos ligados aos “media” e de questões ligadas ao Sindicato dos Jornalistas», refere.

Madalena Oliveira destaca que, numa fase mais recente, assistiu-se à diversificação dos locais onde se reflecte sobre o jornalismo, tais como a revista “Jornalismo e Jornalistas”, o programa Clube de Jornalistas na televisão ou o site do Clube de Jornalistas, que trouxeram o jornalismo para mais perto das pessoas.

«A verdade é que, nos últimos tempos, os jornalistas têm sido cada vez mais notícia. Inúmeros casos da actualidade têm feito com que os próprios jornalistas sejam objecto de notícia, quer pelos procedimentos habituais da profissão, pelas derrapagens ético-deontológicas ou pela preocupação mais ampla de questionar o próprio jornalismo e os assuntos dos quais se ocupa habitualmente. O jornalismo tem sido cada vez mais notícia. Ao jeito daquilo que eu chamo metajornalismo, o jornalismo sobre o jornalismo», sublinha.

Conhecer melhor
as circunstâncias

Madalena Oliveira espera que o jornalismo sobre o jornalismo, se não servir para melhorar esta actividade profissional, pelo menos sirva para «conhecermos melhor e se conhecerem melhor as circunstâncias e as vicissitudes de uma profissão tão complexa». «Eu não sei se a acção de um provedor do leitor é fazer com que os jornalistas passem a trabalhar melhor. Mas é, pelo menos, obrigá-los a reflectir sobre o que fazem, dando a conhecer aos leitores o que são as contingências da própria profissão, as circunstâncias em que o jornalismo se faz e quais são os seus constrangimentos», exemplifica.

A investigadora sublinha que um dos pontos de interesse do discurso meta-jornalístico é «falar do jornalismo às pessoas, para que elas percebam o que é que está por detrás da profissão». «Não é uma questão de acusar ou de recuperar o jornalismo das suas desgraças. Se pudesse ser, tanto melhor, mas não vejo por aí o interesse exclusivo deste tipo de discurso. Ele contribui para percebermos, para reflectirmos, para exercermos um espírito crítico, que não tem de ser necessariamente acusatório», afirma.

4/12/02007 (data de publicação)

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