quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Internet alarga participação pública a quem não tem ligação partidária



A agenda da reunião de hoje da Câmara Municipal de Braga inclui a análise de uma proposta apresentada pela Coligação Juntos por Braga, que surgiu depois de ter sido colocada na Internet uma petição a solicitar um estudo para o regresso do eléctrico a Braga. O primeiro subscritor e autor do blog Avenida Central espera que a proposta seja aprovada. Mesmo que a ideia seja rejeitada, as 820 pessoas que assinaram a petição já conseguiram a primeira vitória: marcar a agenda política e até dos meios de comunicação social. E demonstraram que há novas formas de participação no debate público, que não passam pelo seio dos partidos políticos, numa cidade ainda bastante acomodada.

O mentor desta iniciativa, Pedro Morgado, salienta, em declarações ao Diário do Minho, que «o advento das novas tecnologias e da Internet criou a possibilidade de discussões mais aprofundadas e mais globalizadas, que conseguem envolver mais pessoas, que não estão vinculadas a partidos ou a associações». «Com essa “democratização” da opinião pública, os políticos também começam a valorizar os contributos que lhes chegam por vias que vão para além da política mais tradicional», afirma.

O meio político acabou por se pronunciar sobre esta matéria. Mesquita Machado achou a proposta «muito interessante» e mostrou-se disponível para discuti-la, a Coligação Juntos por Braga (PSD, CDS/PP e PPM) apresentou o seu próprio documento ao executivo, alguns bloquistas subscreveram o documento e o PCP elogiou as «boas intenções e legítimas preocupações», mas considerou que a ideia «carece de envergadura e ambições para resolver os problemas».

No entender do dinamizador do “Avenida Central”, a reacção dos políticos bracarenses «demonstra que eles conseguiram perceber a importância que há em ouvir as populações e em respeitar as suas iniciativas». «Depois de muitos anos a falar de democracia participativa, dava a impressão que a democracia participativa era um exercício de retórica. Gostávamos muito que as pessoas participassem, mas era muito difícil que essa participação acontecesse fora dos partidos políticos».

Para este jovem médico, «a adesão das pessoas foi uma grande surpresa, não só pela quantidade, mas também pela qualidade das participações». A discussão contou com os contributos de diversos sectores da sociedade, desde docentes universitários até três forças políticas, motivou diversos artigos de opinião e notícias na comunicação social. «Toda esta movimentação acaba por causar uma certa surpresa numa cidade pouco habituada a discutir os seus assuntos», admite, referindo que «Braga é uma cidade muito acostumada a ter soluções únicas, em que as decisões se tomam sem debate algum».

Inovação
na forma de debate


Pedro Morgado considera que «este debate foi algo inovador na cidade, uma vez que permitiu que fosse a sociedade a relançar a ideia, a discutir as diferentes soluções e a analisar os prós e os contras da proposta». «A Internet é uma arma muito poderosa em termos de democratização do debate público. A participação fica muito facilitada e aberta a novos públicos, que tradicionalmente estavam arredados deste tipo de debates», afirma.

No entanto, defende que os bracarenses ainda «não aproveitam da melhor forma» os novos instrumentos de participação que têm ao seu dispor. «Se compararmos o número de blogs que se dedica a pensar e a reflectir sobre a política em Braga verificamos que ele é muito inferior ao de cidades como Porto e Coimbra. Há muito para fazer em termos de iniciativas na Internet que não tem necessariamente que passar pelos blogs. Os bracarenses, e o Minho em geral, estão a desperdiçar todo esse potencial», declara.

Na sua opinião, «as pessoas estão muito acomodadas», mas se iniciativas como a petição on-line forem bem acolhidas isso «acabará por espicaçar o comodismo que nos vem caracterizando». «Em termos históricos foi uma iniciativa deste género que condicionou a opção de fazer o comboio vir para Braga directamente, sem passar por Penafiel e Guimarães como chegou a estar previsto, o que tornaria a viagem muito mais longa e demorada. Este comodismo da sociedade bracarense não é intrínseco, foi adquirido ao longo dos tempos, pelo que há grandes possibilidades de cura», diz.

11/10/2007 (data de publicação)

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