Reflexões em torno da comunicação, nas suas mais variadas formas, e não só. Um exercício de cidadania. Por uma jornalista, que será sempre a culpada. Pelo menos por aqui...
quarta-feira, 5 de dezembro de 2007
Blogues são espaços privilegiados de escrutínio do jornalismo
Investigadora da UM estudou uma década de metajornalismo
A investigadora da Universidade do Minho Madalena Oliveira estudou mais de uma década de discurso metajornalístico. A docente constatou que, por diferentes vias, o jornalismo se transformou em matéria de comunicação. O jornalismo tornou-se em sujeito do seu próprio discurso. «Está nas páginas dos jornais, está em edições especializadas, académicas ou não, em programas de televisão, nos sites das organizações e associações a ele ligados e está, provavelmente como em nenhum outro lado, na blogosfera», afirma.
A especialista defende, na sua tese de doutoramento, que é pelos blogues «que tem passado, nos últimos anos, o forte incremento da reflexão sobre o jornalismo». «Plataformas de edição fácil, os blogues tornaram-se rapidamente espaços privilegiados de escrutínio do jornalismo, permitindo a leitura e a análise actualizada do desempenho dos jornalistas», destaca.
Na sua perspectiva, esta é «uma outra forma de metajornalismo, que tem, na generalidade dos casos, ainda a vantagem de permitir a troca de opiniões e comentários, num sinal claro de abertura à pluralidade de expressões».
A professora universitária diz que a grande vantagem dos blogues foi, justamente, «dar voz a quem habitualmente não aparecia nos jornais a comentar o jornalismo. Há blogues especializados, mas há outros que, não sendo especializados em jornalismo, também se pronunciam sobre o jornalismo. O “Abrupto”, de Pacheco Pereira, não é um blogue sobre jornalismo ou metajornalismo, mas reflecte muitas vezes sobre o jornalismo. Essa abertura foi muito positiva para reflectir sobre uma classe que parecia imune a críticas».
Madalena Oliveira aponta, no entanto, algumas das limitações deste meio, como o anonimato dos autores e comentadores ou o número de leitores. «Não sei se os blogues chegam para modificar o jornalismo porque ainda são instrumentos para pequenas minorias. Se calhar começam a ser instrumentos de massa, mas, de facto, ainda não o são. Os blogues estão na Internet e é óbvio que a Internet não chega assim a tanta gente como os jornais, que estão nas bancas», adverte.
Contudo, considera que «ignorar o que se debate nos blogues seria ignorar uma dimensão fundamental da participação dos cidadãos na dinâmica social. Compreende-se que se diga que ainda são francamente minoritários os grupos que manifestam interesses na blogosfera, como serão ainda muito restritos os núcleos de leitores ou telespectadores que interagem com os provedores. Mas é esta consciência que deverá orientar o caminho que há a fazer».
Metajornalismo
tem vantagens
A investigadora aponta vantagens do metajornalismo em relação à ética em sentido estrito. «Eu oponho insistentemente metajornalismo a um imperativo de tipo exclusivamente ético-deontológico. Onde eu vejo vantagens do metajornalismo em relação à ética, no seu sentido transcendental, é que o metajornalismo obriga-nos a reflectir criticamente sobre a actividade jornalística, num contexto particular», explica.
«Do ponto de vista transcendental, a ética faria com que reflectíssemos o jornalismo por referência ao que ele deveria ser. O metajornalismo não é tanto uma reflexão por relação ao que deveria ser, mas tendo por referência aquilo que de facto é. Não é um código transcendental que define como é que o jornalismo deve ser, como faria uma ética procedimental, mas um discurso que permite discuti-lo nas circunstâncias reais. Penso que é no concreto, nas circunstâncias do momento, que esta reflexão se deve fazer», declara.
A professora universitária faz a apologia deste tipo de discurso. «Não sei se o metajornalismo é uma via para se preservar o jornalismo como gostaríamos que ele fosse, mas é pelo menos a via que temos para reflectir sobre o que ele efectivamente é», sustenta.
Em seu entender, «ao contrário do que dizem os manuais clássicos, os jornalistas devem continuar a ser notícia – de preferência por boas razões – porque isolá-los da possibilidade de serem notícia seria torná-los imunes à crítica, à reflexão, transformá-los numa espécie de corte que vive numa redoma, intocável, imune à crítica e longe do olhar de quem legitima a sua actividade, que são os leitores».
4/12/2007 (data de publicação)
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