quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Começa a haver plágio no artesanato urbano


São muitas vezes pequenos objectos feitos à mão, mas têm subjacente idéias geniais. São peças de artesanato urbano, que começam a ser alvo de plágio, facilitado pela divulgação na Internet. Este meio é uma faca de dois gumes, pois ajuda os artesãos a comercializarem os seus artigos, mas também expõe as peças aos olhos dos menos criativos. Patentear as criações é um dos caminhos para evitar que os menos escrupulosos lucrem com o trabalho dos outros.

Este alerta foi deixado no âmbito da II Feira Velha – Mostra e Venda de Artesanato, que começou ontem e termina hoje na Velha-a-Branca – Estaleiro Cultural. O certame, mais uma vez dinamizado por Marta Mendes conta com a participação de mais artesãos do que na edição anterior, que apresentam um leque diversificado de artigos.

Entre as diferentes propostas é possível encontrar colares, brincos, pulseiras, carteiras, porta-lápis, artigos para o cabelo, caixas, cadernos ou bonecos, todos feitos à mão. Cada uma destas peças únicas reflecte o estilo pessoal do artesão, pelo que muitas vezes não é preciso olhar para a assinatura ou etiqueta para saber quem é o autor. A marca pessoaçl sobressai.

É esta característica do artesanato que está a ser subvertida pelos plágios, o que desagrada profundamente aos artistas. Lara Silva decidiu avançar com o registo da patente dos seus seus imaginativos colares “windy tripes”. A artesã deixou o emprego num jornal diário para fazer do artesanato a sua «profissão a cem por cento», por isso não está disposta a fechar os olhos às cópias dos seus artigos.

«A Internet é uma mais-valia, uma vez que é uma forma muita barata que os criadores têm de divulgar o seu trabalho. Contudo, também acarreta alguns perigos. A crise tem feito com que o plágio aumente», afirma a mentora da marca Laracrafts.

Para Lara Silva, o registo das patentes não será «cem por cento eficaz», mas pelo menos sará aos artesãos outros meios para se defenderem de eventuais cópias.

A criadora tem continuado a desenvolver o seu trabalho, «sempre com produtos novos». Os seus artigos são vendidos em meia dúzia de lojas em Portugal e na Casa Portuguesa em Barcelona. Em Setembro, Lara Silva vai ter os seus produtos para a infância noutro establecimento em Barcelona. Em relação ao Portugal, sublinha que tem havido um “boom” desta actividade, em grande parte divulgada pelas inúmeras feiras que têm surgido.

Marta Mendes, por seu turno, reconhece que há casos de plágio, mas tenta «não pensar muito nisso». A própria artesão já viu as fotografias dos seus trabalhos usadas de forma irregular, pelo que teve de agir. Apesar de ainda não ter avançado com o registo dos seus trabalhos, reconhece que este «é o caminho certo».

Em seu entender, num ano, o panorama do artesanato urbano «alterou-se um bocadinho». Agora há «mais feiras e mais oportunidades de divulgar o artesanato» que não se encaixa nas ideias que normalmente são associadas a estas peças.

Margarida Silva, que divide a banca com Rita Matos, apresenta no jardim da Velha-a-Branca bijuteria. A criadora revela que «sempre gostou de bijuteria e de moda». O seu tempo é dividido entre os estudos e o artesanato, que vende em bancas de rua e em festivais. «As pessoas gostam de coisas diferentes», afiram, explicando o motivo pelo qual as peças têm vindo a ganhar adeptos.

Susana Jardim também participa pela primeira vez na feira, para «ver, aprender e mostrar». Há mais de uma década nesta actividade, sempre a encarou como um passatempo. Com o aumento da procura, esta madeirense radicada em Braga começou a leber «este hobbie mais a sério».

Nair e Sílvia Gonçalves são mãe e filha, que partilham o gosto pelo artesanato, à semelhença do resto da família. Tambném elas estão a dedicar-se a este trabalho «mais a fundo». Nair Gonçalves conta que quando tem uma ideia tem de ir fazer o molde, tem de ir «experimentar». A artesão tem o Curso de Artes e Tecidos, a «natiga formação feminina», como lhe chama, e lamenta que hoje não haja esse tipo de formação. «Fazia falta», constata.

Alexandra Santos, que assina os trabalhos como “Papiola Menina”, revela que «começou de forma suave», quase «por brincadeira». A actividade está a ser levada a sério nos últimos anos, mas o objectivo são é fazer dela a única forma de vida. «O objectivo é ir evoluindo, mas será uma actividade colateral», afirma. Os seus trabalhos estão a ser cada vez mais solicitados, estando disponíveis em várias lojas, entre as quais a da Velha-a-Branca.

Esta artesã ainda não teve de se confrontar com casos de plágios, mas está consciente do problema. Alexandra Santos refere que cada peça é feita «com muito carinho». «Tem muito de mim», diz, destacando que cada peçla artesanal tem «uma marca pessoal, que é fácil de identificar». Apesar de ainda não ter visto os seus produtos plagiados, afirma que o registo de patentes é «a atitude mais simpática».

29/07/2007 (data de publicação)

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