segunda-feira, 22 de março de 2010

Suspeitas inquietantes

 
 Foto @ Miguel A. Lopes/Lusa
 
Na madrugada da passada segunda-feira, Nuno Rodrigues, mais conhecido no hip-hop nacional como MC Snake, não terá parado numa operação STOP. Depois de uma perseguição policial pelas ruas de Lisboa, o rapper acabou por morrer atingido por um tiro que terá sido disparado por um jovem agente da PSP.

O corpo do músico negro de Chelas, que há alguns anos cumpriu uma pena de prisão por tráfico de droga, foi quinta-feira a sepultar, com palmas e pedidos de justiça. A mesma mensagem será certamente transmitida numa concentração marcada para ontem [e que se concretizou], que os promotores dizem pretender ser um «gesto de paz» e uma ocasião para fazer um minuto de silêncio pelo amigo que partiu aos 30 anos, deixando uma filha de dois.

Ao ler os relatos do caso na comunicação social fica-se com a sensação de que a história está mal contada. Ora, esta é uma matéria que precisa de ser cabalmente esclarecida, pois as suspeitas que têm sido levantadas acerca das circunstâncias desta morte são perturbadoras.

O Sindicato dos Profissionais de Polícia veio a público denunciar que o agente que terá disparado sobre o músico não teve instrução de treino com a arma que usava no trabalho. Apesar das garantias dadas pela Direcção Nacional da PSP de que o polícia possui formação de tiro, não deixa de ser inquietante a hipótese de que os agentes que nos devem proteger não têm o treino apropriado para a sua perigosa missão ou que usam métodos desadequados nas operações que levam a cabo.

Esta questão ganha agora nova acuidade, mas o certo é que os alertas para a falta de condições de trabalho das forças de segurança – quer de equipamentos, quer de formação – não são novos.Este é um assunto demasiado sério para se perder nas brumas do tempo, até que uma nova tragédia o faça saltar novamente para a ordem do dia.

Este é um caso propício a julgamentos populares rápidos, sem que haja conhecimento de todos os dados sobre o que se passou. Em vez de juízos precipitados, importa reflectir sobre as questões de fundo que verdadeiramente estão em causa. Episódios deste género não podem abalar a confiança nas forças de segurança. Se as pessoas começam a achar que têm de se defender da polícia, é um caminho sem retorno.

[Publicado no Diário do Minho, 20 de Março de 2010]

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