quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Fazer festinhas

@ Luísa Teresa Ribeiro

Com o avançar do mês de Setembro, chegam ao fim os programas das autarquias para a época estival, que têm como elementos obrigatórios os festivais de música, as feirinhas de múltiplas bugigangas e os comes e bebes.

Os cartazes destas iniciativas de Verão oscilam entre algo sem qualidade, traduzindo a visão de que para “o povo” qualquer coisa serve, e os gastos sumptuários, que revelam uma clara aposta no “circo” numa altura em que o “pão” é à míngua.

Os programas de algumas localidades mais pequenas em termos geográficos, populacionais e no tamanho dos cofres municipais são de fazer corar de vergonha vilas e cidades de maiores dimensões, que se transformam em autênticos desertos no tocante à animação cultural na época do ano em que uma parte significativa da população está de férias.

À semelhança do que se passa noutros sectores, também as animações de Verão demonstram que ainda há um caminho bastante longo a percorrer na articulação da programação entre concelhos vizinhos, que vivem tantas vezes de costas voltadas e a alimentar rivalidades bacocas.

O ancestral bairrismo não pode ser justificação para gastos desnecessários do erário público, seja na apresentação de propostas lúdicas, seja em infra-estruturas que por vezes se multiplicam ao sabor dos desejos dos responsáveis políticos transvestidos nos alegados interesses das populações.

Os nomes sonantes nas programações servem em alguns casos para disfarçar a ausência de soluções locais, fruto da falta de dinâmica artístico-cultural ou da crença de que o que é da terra não presta.

Esta postura de governação, que se traduz numa política de atribuição casual de subsídios, não raras vezes de valores ridículos, acaba por ter elevados custos para as localidades onde é praticada.

É que ter estruturas concelhias fortes é seguramente mais importante do que receber um artista cujo nome será esquecido logo que soprem os primeiros ventos da nova estação. E há quem assegure que até dá mais votos...

[Artigo publicado no Diário do Minho de 14 de Setembro de 2008]

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