A petição que reivindica pluralidade desportiva na RTP, através da igualdade de tratamento dos clubes de futebol no serviço público, já foi assinada por mais de mil pessoas.
Este protesto foi lançado pelos bloggers Carlos Ribeiro (Vimaranes) e Pedro Morgado (Avenida Central), que explicam as reivindicações num trabalho que hoje assino no Diário do Minho.
A iniciativa é comentada nas páginas do mesmo jornal por Felisbela Lopes, professora da Universidade do Minho com um sólido trabalho sobre a televisão e muito concretamente sobre o serviço público.
Juntamente com Sara Pereira, Felisbela Lopes é coordenadora do livro “A TV do Futebol”, que junta jornalistas e académicos numa reflexão sobre este fenómeno.
A obra divide-se em quatro partes:
1) O planeamento da cobertura do Mundial 2006 nos canais de TV
2) Olhares dos jornalistas sobre o futebol e o jornalismo desportivo
3) Perspectivas académicas sobre o futebol na TV
4) O futebol e a educação para os "media
"
A obra é muito interessante e merece ser lida. Aqui ficam alguns excertos para aguçar o apetite:
«É comum dizer-se que o futebol tem demasiada importância em Portugal Culpa do nosso atraso cultural e da nossa verde democracia, da falta de elites culturais e de outros hábitos de lazer, culpa de uma escolaridade de qualidade discutível, culpa da Comunicação Social que lhe confere demasiado espaço e tempo. Recuso a tese da culpabilidade. Ninguém tem culpa, nem tem de ser desculpar, pela dimensão que o fenómeno atingiu. O futebol é assim porque apaixona povos inteiros e não apenas o português».
Carlos Daniel (pag. 38)
«Se em Portugal se revela facilmente a prevalência da paixão sobre a razão, também se descobre, sem dificuldade, uma razão que não admite um só pingo de emoção. Refiro-me a uma parte da elite portuguesa que não vai à bola com o futebol, apesar de, às vezes, não resistir à sedução da presença nas tribunas de honra dos estádios, porque ali pode despertar alguma atenção da comunicação social e, ainda por cima, lancha ou janta bem».
David Borges (pag. 49)
«Existe o futebol e depois (no sentido de em paralelo), existe o futebol da televisão. Ou, talvez, a ordem seja a inversa. Existe o futebol da televisão e existe também o futebol. Por vezes, ambos são a mesma coisa. Mas nem sempre. O futebol da televisão é aquele que se discute em casa, nos cafés e nas manhãs de segunda-feira. Já não se discute o que não se vê, como há algumas décadas, quando o futebol era ouvido e lido e a palavra de uns quantos ditava a lei. Hoje o futebol é visto. Numa boa discussão sobre um jogo de futebol, pouco conta a opinião de quem observou no estádio ou cita de memoria argumentos, mesmo se suportados pelo mais ilustre dos especialistas. Quem não viu na televisão não sabe».
Luís Sobral (pag. 67)
«A chegada da televisão ao futebol tem como consequência importante o aumento da desigualdade de poder entre os clubes grandes e pequenos ou, pelo menos, a recolocação dessa desigualdade a uma nova escala. Assim, como em tempos anteriores, o desenvolvimento do caminho-de-ferro e de auto-estradas modernas facilitou uma deslocação das fidelidades clubistas de pequenos para grandes clubes – com os habitantes de uma cidade de segunda ou de uma pequena vila a poderem deslocar-se até à cidade maior para poderem observar o jogo da equipa desse local –, agora a televisão não apenas intensifica as possibilidades de desterritorialização da preferência clubista como também valoriza especificamente os desequilíbrios relativos ao número de adeptos por ela tomados por espectadores e por consumidores».
José Neves (pag. 102)
Sem comentários:
Enviar um comentário