sábado, 26 de julho de 2008

E o resto é paisagem...


Porque é que há, em Portugal, «inúmeros» lugares «que só “existem” de vez em quando»? E porque é que há «terras que já nem uma vez por ano são noticiadas»? O que preciso fazer para se ser notícia? É obrigatório ser-se notícia? Estas são perguntas suscitadas pela manchete do “Sexta” – “Quantas vezes se fala de Paredes de Coura?”. O artigo publicado Trio de Rachar:

«Lugares de Portugal que só “existem” de vez em quando»


O “Sexta” faz manchete com a pergunta “Quantas vezes se fala de Paredes de Coura?”, chamando a atenção para uma reportagem sobre as «terras que só são faladas uma vez por ano». Lá dentro, o título é “Dias que valem por um ano”.

O jornal gratuito começa logo com um disparate na primeira página: afirma que o Festival Heineken Paredes de Coura se realiza «dentro de um mês», quando começa já na próxima quinta-feira. Ora aqui está um exemplo do que não se deve fazer: só falar uma vez por ano e ainda por cima dizer asneiras na manchete.

No artigo, a confusão é total. No início diz-se que o festival começa a 31 de Agosto, mas mais à frente já se refere que decorre «até dia 3 de Agosto».

Quem recebeu o “Sexta” por ter comprado o “Público” deve ter reparado que o Ípsilon dedica duas páginas aos Sex Pistols, que actuam no primeiro dia do festival de Coura. E aí a data está correcta.

A lista de localidades das quais, segundo semanário, só se fala «uma vez por ano» inclui também Vila Nova de Cerveira, apresentada como sendo «conhecida pela ligação a Goyan», embora ofereça «muito mais». Qual é o português que não conhece Goyan?!

O artigo lembra ainda os extintos festivais de Vilar de Mouros (que deve regressar para o ano) e de Vieira do Minho. A notícia, no segundo caso, seria igualmente a possibilidade de regresso do Festival Ilha do Ermal em 2009, mas não houve espaço para falar desta vila. Talvez para o ano.

A reportagem refere que esta «é, provavelmente, a primeira vez este ano que a vila [de Paredes de Coura] faz notícia. É preciso um grande evento para ser falada». (Por acaso, ainda há pouco tempo quase todos os nacionais falaram de uns garranos mortos a tiro no Corno de Bico, uma área com um nome pitoresco, que dá para fixar…) Nesta perspectiva, os órgãos de informação locais e regionais pouco ou nada parecem contar. Não «fazem notícia»….

Depois, pode ler-se que «música, arte, touradas ou feiras temáticas costumam ser motivo para notícia». Continuo fascinada com os critérios de noticiabilidade. Os mesmos critérios que, aliás, já levaram Paredes de Coura a aprovar um voto de repúdio pela «deficiente» cobertura que a RTP faz dos acontecimentos e iniciativas do concelho…

Este é um tema muito interessante. Porque é que há, em Portugal, «inúmeros» lugares «que só “existem” de vez em quando»? E porque é que há «terras que já nem uma vez por ano são noticiadas»? O que preciso fazer para se ser notícia? É obrigatório ser-se notícia?
Foto DR

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