Reflexões em torno da comunicação, nas suas mais variadas formas, e não só. Um exercício de cidadania. Por uma jornalista, que será sempre a culpada. Pelo menos por aqui...
domingo, 20 de abril de 2008
“Forrobodó” dos recibos verdes ameaça liberdade de imprensa
João Pacheco presente em debate, em Guimarães, sobre precarização dos vínculos laborais
O líder do movimento Precários Inflexíveis classificou, em Guimarães, como «forrobodó» a situação que se vive no jornalismo. João Pacheco alertou que «a liberdade de imprensa está em risco, se não já afectada» com o recurso generalizado a recibos verdes.
O jornalista falava num debate sobre a precarização dos vínculos laborais dos jornalistas, promovido quinta-feira à noite pelo Gabinete de Imprensa de Guimarães, no São Mamede – Centro de Artes e Espectáculos, que contou com a participação do jurista Avelino Marques e que foi moderado por Samuel Silva.
João Pacheco argumentou que um profissional está particularmente vulnerável a pressões quando ganha 400 euros por mês, dos quais tem de tirar o dinheiro para a Segurança Social e o IRS, e nem sequer tem qualquer apoio em caso de doença ou de ficar sem essa fonte de rendimento. Nesse cenário, pode passar pela cabeça dessa pessoa ceder à agência que se propõe ajudar a pagar a escola dos filhos ou as férias.
O jornalista estabeleceu a comparação com um polícia de trânsito, a quem fosse determinado que a remuneração mensal passava a depender de factores como o número de carros a circular na rua, as condições climatéricas e haver ou não outros agentes da autoridade doentes ou de férias. «Certamente que o trânsito seria afectado e os advogados da área criminal teriam muito que fazer devido aos casos de corrupção», advertiu.
«O que me preocupa na precariedade é a “caneta dourada” – e não o “apito dourado”. Um calceteiro pode não fazer o passeio tão bem, mas, no caso dos jornalistas, pode sair uma notícia a dizer que determinado gestor ou empresa são o máximo quando não são», avisou. Por outro lado, referiu que, mesmo que não haja casos de corrupção, é a qualidade do próprio trabalho jornalístico que está em causa.
João Pacheco explicou que o percurso típico de um jovem profissional passa por tirar um curso de Comunicação Social, trabalhar durante meses ou anos em estágios não remunerados e ficar feliz com alguns biscates a recibos verdes.
Na sua perspectiva, a situação tem-se agravado e há «casos desesperados»: há jornalistas que «entraram de joelhos» na profissão mítica com a qual sonharam e anos depois «ainda estão de joelhos ou já estão de gatas». «É difícil defender a liberdade de imprensa de joelhos», vincou.
Por seu turno, Avelino Marques explicou o enquadramento legal dos recibos verdes, admitindo que este problema se põe de uma forma aguda relativamente aos jornalistas, mas que «atravessa transversalmente toda a sociedade, incluindo os advogados». «É grave que assim seja», afirmou.
(Artigo publicado no Diário do Minho de 19/04/2008)
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