segunda-feira, 21 de abril de 2008

«Caso espantoso de manipulação mediática»

O director do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho classificou a forma como Kate McCann foi tratada como o «caso mais espantoso de manipulação mediática».

«Havia um quadro de adesão, de identificação, em que todos sofríamos com ela porque era uma mãe desesperada, capaz de ir a todo o lado – até ao Papa – para encontrar a filha. Depois descarregámos sobre ela, a partir do momento em que um jornalista perguntou porque é que ela não chorava», explicou Manuel Pinto, na conferência promovida pela UMAR.

O professor recordou que estava em causa um casal, mas apenas se falou de Kate, parecendo que Gerry não existia. «Quando foi preciso “atirar a matar”, foi sobre a mãe de Maddie que se atirou».

Por seu turno, a docente Zara Pinto Coelho explicou que é «falacioso» acreditar que um «acesso mais alargado das mulheres à área da produção dos “media” acarreta mudanças positivas» na imagem que é transmitida das mulheres e do feminismo.

A investigadora sustentou que «não é correcto afirmar que a mulher tem representações de género diferentes do homem». Para além disso, aquela teoria parte do pressuposto de que «os indivíduos são autónomos para fazer vingar a sua posição», esquecendo a «complexidade, as tensões e as contradições» do mercado laboral.

Como complemento a esta linha de argumentação, Manuel Pinto sublinhou que não tem havido um crescimento do número de mulheres em cargos de poder proporcional à taxa de feminização dos “media”, deixando a interrogação sobre quem detém o poder de fazer a selecção do que vai ser dito e do que vai ser silenciado e o enquadramento do que for escolhido.

Zara Pinto Coelho destacou a importância da introdução de uma perspectiva feminista nos currículos académicos ligados à comunicação. A investigadora foi secundada por Manuel Pinto, que sublinhou a premência da formação dos profissionais desta área «para que não comam gato por lebre», mas também da «formação crítica para os “média” por parte dos cidadãos».

Anabela Santos, mestranda em Ciências da Comunicação e co-autora do blogue “O Mal da Indiferença”, classificou a blogosfera como «uma grande mais-valia» para a expressão do feminismo e para a promoção dos direitos humanos, pois permite «expor casos que não conseguem penetrar na agenda dos “media”» e «despertar a consciência social». Em seu entender, «a presença crescente do ciberfeminismo é importante para este movimento».


(Artigo publicado no Diário do Minho de 19/04/2008)

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