segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Já não basta fazer....


Dois sociólogos foram ao Parlamento dizer que algumas escolas públicas escolhem os alunos com base na sua origem sócio-económica, violando a lei, com o objectivo de reduzir o insucesso escolar.

João Sebastião e Pedro Abrantes, do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, ouvidos na Comissão Parlamentar de Educação, afirmaram que, «contra o que está inscrito na lei, muitas escolas empurram alunos com histórias de insucesso e origem social e cultural de um nível mais baixo para outras escolas, que acabam por ser consideradas mais problemáticas» (a notícia pode ser lida aqui). A realidade denunciada é grave.

Aparentemente, cada um faz o que pode para se livrar dos problemas, mesmo que isso implique violar a lei. Da mesma forma, há quem promova muito bem o que faz e quem não se dê a esse trabalho. Basta ver a maneira como alguns promovem o lugar que conseguem nos rankings, que olho sempre com as enormes reservas que eles merecem.

Este ano, a questão dos rankings teve implicações até no mundo da comunicação, com o Público a protestar pelo facto de a ministra da Educação ter alterado o procedimento habitual de revelar os dados com antecedência, para ser possível tratá-los atempadamente (o caso pode ser recordado aqui e aqui).

A selecção dos alunos e a estratégia de comunicação são factores importantes para a divisão entre as ditas “boas” e “más” escolas.

Se olharmos atentamente, verificamos que as escolas apostam cada vez mais na comunicação daquilo que fazem. E, nesta matéria, as públicas ficam geralmente a perder em comparação com as privadas. Muitos estabelecimentos de ensino particulares já há bastante tempo que têm gabinetes de comunicação, que transformam todos os eventos em iniciativas de sucesso. Isto significa que, à partida, aparecer repetidamente no jornal não quer dizer que o trabalho da escola A seja melhor do que o da B. Só que o facto de a primeira comunicar melhor motiva a comunidade, o que potencia uma espiral positiva, com mais iniciativas, mais entusiasmo, mais sucesso...

Há algum tempo, uma responsável pelo Ministério da Educação disse, em Braga, que, basicamente, a culpa dos problemas das escolas é o facto de os jornalistas só darem notícias más sobre o que lá se passa. Será que ela se lembrou que para haver notícias positivas é preciso que alguém dê a informação? Não estão os funcionários públicos proibidos de falar com a comunicação social sem ordem superior? Pois, então estamos conversados.

(Versão de artigo publicado no Diário do Minho a 09/02/02008)

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