quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Sem rede


Internet. Temo-la no trabalho, em casa, no telemóvel... É através dela que estabelecemos muitos dos nossos contactos profissionais, comunicamos com a família e revelamos intimidades a pessoas mais ou menos estranhas... É aí que demonstramos os nossos conhecimentos tecnológicos, experimentando os últimos programas e acrescentando uma panóplia de elementos que supostamente enriquecem os múltiplos espaços que ocupamos. O dia-a-dia é assim, em banda larga.

Só que, de repente, descobrimos outra realidade. Escolhemos o único serviço de Internet móvel que funciona na aldeia e ficamos a torcer para que ele realmente dê. Às vezes funciona, dependendo do lugar onde o ligamos, mas a uma velocidade infinitamente menor do que aquela a que estamos habituados. Depressa aprendemos que as páginas mais sofisticadas e pesadas são para esquecer. Só as mais básicas é que abrem e mesmo assim é preciso ir por tentativas e ter muita paciência. Testamos a persistência a repetir operações que teimam em falhar quase no fim. Desistimos de mandar fotografias com o mínimo de qualidade ou outros documentos mais pesados e de ver vídeos online.

Depois de mais uma operação básica que deu erro por falta de rede, surpreendemo-nos porque mais ninguém se enfurece. É assim, dizem. É assim com a Internet, é assim com o telemóvel que teima em não ter rede, é assim com a televisão por cabo... Para além disso, poucos há para quem “essas coisas” façam falta. Os mais novos estão na vila, onde “há quase de tudo”, e os mais velhos olham para a televisão com desconfiança quando, a cada passo, vêem as notícias de idosos a aprender a mexer nos computadores. Para os que foram obrigados a ficar pela terceira classe e para quem a vida não foi meiga em carga de trabalho, resta um olhar triste, rodeado por pele grossa e enrugada. Afinal, já estão habituados a que poucos se lembrem deles...

1 comentário:

Anónimo disse...

Gostei. É verdade. Mas nem tudo é mau. Aprovieta os momentos/espaços sem redes, de preferência os que nem FM apanham, e desfruta o silêncio hertziano, o prazer de não precisares de nada disso para te sentires super bem. Tens sempre uma linha directa embora invisível e improvável, para o Fabricante supremo, para lhe dares uma palavrinha, de gloriosa aclamação ou símplice reclamação. Amen. Assina @ornip.