A info-exclusão impede muitos imigrantes em Portugal de pedirem a autorização de residência através da Internet. Este alerta foi lançado, ontem, por um representante de uma associação de imigrantes, após a entrega das primeiras 16 autorizações de residência concedidas a estrangeiros ao abrigo da nova Lei de Imigração e de uma reunião com o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras.
Esta questão, levantada no Dia Internacional do Migrante, fez-me pensar no debate sobre as novas tecnologias, nomeadamente a que foi despoletada pelo artigo “Fractura Digital”, do coordenador nacional da Estratégia de Lisboa e do Plano Tecnológico, Carlos Zorrinho, no Público.
Creio que, por vezes, pelo facto de a maior parte das pessoas que conhecemos não viver sem a Internet, somos levados a acreditar que já não há vida sem essa ligação ao mundo. Mas a verdade é que há...
Experimentem ir para uma aldeia ou para um lugar mais afastado dos centros urbanos e já vão perceber que a Internet ainda é um luxo de alguns. Recordo-me do desabafo de um presidente de Junta, que lamentava que lhe tivessem dado o melhor material informático do mercado para ter uma ligação de banda larga à Internet. É que lá, na aldeia, tudo aquilo, que deve ter “custado os olhos da cara”, mais não era do que tralha à espera que a banda larga chegasse.
Experimentem pensar em comprar uma prenda para um pré-adoscente e vão ver que quase todas as opções giram à volta das novas tecnologias... E se o rapaz pertencer a uma dessas famílias de info-excluídos, para as quais a compra de um computador e, sobretudo, a factura da Internet, por mais básico que seja o pacote, ainda são incomportáveis?
Experimentem lembrar-se das pessoas daquele a que chamam “Portugal profundo”, mas que eu prefiro apelidar de país real, para quem Internet, blogues, Google, MSN, Hi5, facebook e tantas outras coisas são apenas palavras estranhas que vêem cada vez com maior frequência, mas às quais não corresponde qualquer significado.
Experimentem ter presente os conhecidos que promoveram a Internet a nova ama universal, que mantém entretidas as crianças e os jovens, como se fosse um meio absolutamente seguro e inóquo, e aqueles já com mais idade, mas igualmente sem preparação, que perdem o pé a navegar em água poucos fiáveis.
Por estas e por muitas outras questões, concordo inteiramente com Manuel Pinto quando diz, no Jornalismo & Comunicação, que «algo está a ser feito e que é, porventura, importante. Mas começa a não se suportar o tique de auto-satisfação exibicionista (e por vezes balofa) que caracteriza a acção de vários sectores do actual Governo».
Nada mais pertinente do que as perguntas que deixa:
«Como é possível atribuir tais virtudes e tal espírito visionário à actual política no sector da promoção da sociedade da informação e do conhecimento e não se ver praticamente nada de consistente em torno da “literacia digital”, que é, seguramente, muito mais do que o acesso e a utilização de computador e da Internet?»
«Onde está a formação, os contratos-programa, a investigação, o incentivo às iniciativas dos agentes sócio-culturais, no sentido de capacitar o maior número de pessoas para saber tirar partido, ser crítico e ser activo face à (e na) Internet?»
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