Reflexões em torno da comunicação, nas suas mais variadas formas, e não só. Um exercício de cidadania. Por uma jornalista, que será sempre a culpada. Pelo menos por aqui...
quinta-feira, 6 de dezembro de 2007
Monstruosidades
As mensagens publicitárias acompanham-nos em (quase) todos os momentos da nossas vidas. Na televisão, na rádio, na imprensa, na rua, no cinema e até nas casas de banho públicas lá estão os anúncios, estrategicamente colocados para nos seduzirem e nos transportarem subitamente para um mundo onde tudo é perfeito.
São os milagres modernos, em que tudo é conseguido sem grandes sacrifícios, apenas a troco de um cartãozinho cujo contrato tem umas letras pequeninas que também não tivemos o cuidado de ler porque não nos passou pela cabeça que os senhores do universo maravilhoso tivessem algo para nos ocultar.
E assim vivemos. Alegremente. Seguimos as modas que não nos favorecem com invulgar naturalidade. Trocamos de carro, de casa, de parceiro. Dizemos as piadas que todos dizem, vamos aos sítios onde todos vão. Os nossos sentidos estão sempre ávidos por mais e mais informação.
Mas, depois, de repente e inexplicavelmente, ficamos cegos, surdos e mudos para algumas coisas. Vemos campanhas contra a violência doméstica, a sida, a discriminação racial ou o abandono dos animais e continuamos impávidos e serenos, mergulhados nos nossos objectos supérfluos, comprados com o dinheiro que muitas vezes não temos.
No nosso castelo de ilusões, criamos as condições para o surgimento de pequenos monstros. Monstros “fashion”, adeptos das novas tecnologias, com futuros profissionais previsivelmente risonhos. Mas indubitavelmente monstros.
Ou o que é que se pode chamar a um terço dos 4.877 jovens portugueses inquiridos que se recusam a estar ao lado de colegas com sida e aos quatro em cada dez que acham que a um infectado não deveria ser permitido frequentar a escola?
O que é que se pode chamar aos sete por cento que confessam que deixariam de ser amigos de uma pessoa infectada ou aos cerca de 20 por cento que não visitariam um amigo doente? E aos 9,3 por cento que declaram que as pessoas doentes deveriam viver à parte do resto da população?
Estes são dados do estudo "O comportamento sexual dos adolescentes portugueses", citado no passado domingo pelo "Público", e devem, certamente, fazer-nos pensar. Ou idealizar uma campanha em que se prometam as merecidas jaulas de alta segurança para estes monstros. Já!
5/12/2007
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