segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Mete-se uma rolha na boca do gado?

Em Agosto, sob os holofotes da comunicação social, o ministro da Agricultura abraçou-se a duas agricultoras do Soajo afectadas pelos incêndios que devastaram o Parque Nacional da Peneda-Gerês, prometendo que as ajudas para a alimentação dos animais estavam garantidas. Perante pastores, autarcas e governadores civis, António Serrano assegurou que não havia o perigo de incumprimento da promessa, uma vez que existia o dinheiro necessário para este apoio de emergência.

Quatro meses depois, o processo parece andar perdido nas teias burocráticas em que se enredam todos os assuntos em Portugal, mesmo os mais urgentes, sem que os agricultores afectados pelas chamas que consumiram uma parte significativa do único parque nacional português tenham tido acesso ao apoio para assegurar a alimentação do gado na ausência de pastos.

A questão foi levada novamente ao Parlamento através de um requerimento do deputado do Bloco de Esquerda eleito pelo círculo eleitoral de Braga, Pedro Soares, que diz já ser «impossível» o cumprimento da promessa, feita pelo ministro António Serrano na Comissão Parlamentar de Agricultura, de que o pagamento seria efectuado ainda este ano.

Infelizmente, esta situação repete-se quase sempre nas situações em que são prometidas ajudas de emergência, no calor do acontecimento, em que uma medida desta natureza fica sempre bem para tentar enxugar as lágrimas que se vêem correr no rosto das vítimas.

É certo que há um mínimo de formalidades que é preciso cumprir para que seja atribuído a particulares dinheiro do erário público, mas é incompreensível que, por exemplo, as ajudas para alimentar os animais demorem tanto tempo, como se entretanto o gado não tivesse que comer.

Este ano, num Verão quente em termos de incêndios, o Parque Nacional foi alvo de uma autêntica correria de políticos, que rivalizavam com as chamas na captação da atenção mediática. Muitas críticas e outras tantas promessas, que parecem ter voltado a ficar adormecidas, até que o fogo torne a lavrar no que resta da principal área protegida portuguesa. E aí, mais uma vez, tal como sempre acontece, a culpa morrerá solteira.

[Publicado no Diário do Minho, 18 de Dezembro de 2010]

Actualização: O Ministério da Agricultura anunciou a 30 de Dezembro que pagou 2,3 milhões de euros para ajuda alimentar

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