terça-feira, 31 de agosto de 2010

Uma serra com muito potencial

A Serra d’Arga voltou este fim-de-semana a atrair milhares de pessoas para mais uma típica e genuína romaria de S. João d’Arga. Este é o evento que mais gente chama a uma serra com um enorme potencial, que ainda não está devidamente aproveitado.

A manutenção da tradição mostra que é possível atrair pessoas sem fazer cedências a festejos que não têm a ver com a nossa cultura. O interesse manifestado pelos jovens em aprender concertina dá um bom sinal sobre a continuidade de alguns dos nossos traços culturais.

Contudo, a imagem da vegetação destruída pelo fogo era desoladora para quem ainda há pouco tempo apreciou a serra em todo o seu esplendor, deixando uma nota de preocupação em relação ao futuro deste espaço que está integrado na Rede Natura.

A reabertura do Centro de Interpretação da Serra d’Arga no ano passado, depois de um longo período de portas fechadas, foi um passo importante para dar uma nova vida a estes montes desertificados e envelhecidos. Contudo, a simples existência desta estrutura é insuficiente para fixar a população e atrair o investimento que potencie uma nova dinâmica naquela zona.

As câmaras municipais de Caminha, Ponte de Lima e Viana do Castelo estão a estudar em conjunto mecanismos para revitalizar este espaço. Este trabalho articulado trará, certamente, melhores frutos do que intervenções pontuais e desencontradas, desde logo pela maior capacidade de captação de verbas.

Em 2007, um estudo levado a cabo pela Sociedade Portuguesa de Vida Selvagem, no âmbito do projecto Valimar Natura, dizia que o maciço da Serra d’Arga reunia «todas as condições para ser classificado como Área de Paisagem Protegida de Interesse Local», alertando para a necessidade de implementação de algumas «medidas de gestão» para fazer face a algumas ameaças, entre as quais se encontrava o fogo.

Em Abril, o vice-presidente da Câmara Municipal de Caminha referiu que a ideia da classificação teria de ser amadurecida e falada com a população. Esta é uma declaração de princípio interessante, uma vez que as pessoas que moram nos locais devem ser as primeiras a ser ouvidas, pois são um elemento fundamental para o sucesso ou fracasso de uma medida desta natureza. E o desprezo pelos moradores nunca dá bons resultados, como se pode ver no Parque Nacional da Peneda-Gerês, em que a população já está no limiar da desobediência civil.

[Publicado no Diário do Minho, 30 de Agosto de 2010]

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