sexta-feira, 23 de abril de 2010

Um país de canudos

«Boa parte dos estudantes universitários é incapaz de escrever sem erros ortográficos, encadear um raciocínio com princípio, meio e fim, interpretar um texto ou perceber o que é dito na aula. São os próprios professores a reconhecer que o domínio da língua portuguesa é uma aprendizagem que a maioria dos seus alunos não fez no ensino secundário e ainda não consegue fazer no ensino superior. As dificuldades atravessam os cursos que vão das ciências sociais e humanas às ciências exactas e estendem-se a disciplinas como História, Matemática, Física, Gestão, Jornalismo ou Ciência Política», diz-nos o jornal "i".

Esta constatação já não surpreende e parece não deixar muito preocupados os responsáveis pelo nosso sistema de ensino. Embora sem podermos generalizar, sob pena de sermos injustos, os indicadores apontam para um cenário cada vez mais alarmante sobre os conhecimentos do alunos portugueses.

O ensino – uma área-chave para o futuro do país, ainda para mais numa altura em que estamos na chamada sociedade do conhecimento – anda sempre em convulsão. A dança de cadeiras tem sido uma constante, impedindo que se assaquem responsabilidades sobre os erros cometidos. O mais grave de todos parece-me que é destituir a escola da sua principal missão, que deve ser ensinar.

Estigmatizou-se o uso da memória, que passou a ser encarada como um resquício de um país atrasado, longe da era das novas tecnologias. Mas, ao mesmo tempo, verifica-se que não foi inteiramente bem sucedida a tarefa de pôr os alunos a procurar e a processar informação. Mesmo com máquina de calcular é preciso haver um raciocínio que determine que operação é que se vai fazer...

A meta política são as estatísticas. Estamos num processo de qualificação quase administrativa, que certamente nos permitirá fazer um brilharete a nível internacional, mas que poderá ter consequências internas bem amargas. Quanto menos os alunos sabem menor é a exigência. Mas, para os políticos, isso parece não ser importante, desde que todos tenham um canudo...


[Publicado no Diário do Minho, 19 de Abril de 2010]

1 comentário:

M. disse...

E, agora, como reverter isso tudo? É que serão esses a dar aulas aos próximos...
Bjs,
M.