segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Quero um subsídio!

Uma vez ouvi uma comerciante, à porta do seu estabelecimento, a exigir medidas do Governo porque a chuva estava a afastar os clientes. O tom não deixava margens para dúvidas acerca da seriedade do desabafo.

Este tipo de raciocínio está entranhado nos portugueses, que não resistem a estender a mão a um subsidiozinho. Pede-se ajuda porque chove, porque está sol ou porque o tempo está mais ou menos, como se a simples existência desse direito a um apoiozito periódico.

Esta mendicidade crónica ganha foros de escândalo quando entra em jogo o talento para o “chico-espertismo” tão  abundante neste povo. Tenta-se, então, sacar o mais possível ao Estado, como se a factura não tivesse de ser paga por alguém.

Os políticos há muito que perceberam que os subsídios dão votos, por isso toca a gastar à tripa-forra, independentemente da eficácia das verbas que são despendidas. Anuncia-se a atribuição de um dinheirito e a maior parte das pessoas lá fica contente por mais um tempo.

Em época de crise, e agora com o tão oportuno Ano Europeu de Luta Contra a Pobreza e a Exclusão, espera-se que os gastos sociais aumentem. Só que este abrir dos cordões à bolsa deve ser pensado tendo em vista o bem colectivo e não o próximo acto eleitoral. É que o dinheiro, ao contrário do que algumas pessoas parecem pensar, não cai das árvores.

Algumas medidas que supostamente visam promover a justiça social acabam por se transformar em factores criadores de outras injustiças. É justo que quem paga impostos veja o seu dinheiro ir para os bolsos dos “pobres profissionais” que descobriram que viver à custa do Estado é um excelente negócio? É justo que alguém que não quer trabalhar receba apoios para continuar de papo para o ar? É justo dar dinheiro para que pessoas que não querem aprender possam continuar a gozar com a cara dos que se sacrificaram para ter um percurso escolar regular? É justo que empresários especialistas em falcatruas recebam verbas para continuarem a concorrer com os honestos? Nestes casos, e em muitos outros, enquanto se continuar a dar indiscriminadamente, seguramente que não haverá justiça.

[Publicado no Diário do Minho, 11 de Janeiro de 2010]

1 comentário:

M. disse...

Não é justo, não.
Bjs,
M.