quinta-feira, 27 de agosto de 2009

E se acabássemos com o foguetório?

Diz a tradição que as festas têm de ser acompanhadas com foguetes. Encarado como um sinal exterior de alegria, o foguetório está presente nos mais variados festejos, desde celebrações religiosas a vitórias eleitorais e desportivas ou a casamentos. Ao raiar do dia ou já noite dentro, quando muitos estão a tentar descansar, lá se ouve o interminável estralejar do fogo.

De tão enraizada que a sua presença está na nossa cultura, muitas vezes esquecemo-nos de que é, justamente, o fogo que continua a transformar em tragédia ocasiões que deveriam ser de felicidade. O historial de mortes, feridos e danos materiais engrossa todos os anos, sem que ninguém pareça muito preocupado com essa questão.

Quando está em risco a segurança colectiva - e é efectivamente isso que está em causa - não é admissível que se utilize o argumento de que a nossa economia tem a ganhar com o dinamismo deste sector. E, sejamos honestos, o que é que a maior parte do fogo acrescenta aos festejos? Nada, mas continuamos alegremente a queimar dinheiro...

Pela sua perigosidade, esta é uma área onde tem de haver tolerância zero ao incumprimento das regras de segurança. É verdade que os acidentes acontecem, mesmo quando todos os procedimentos de segurança são acautelados. Contudo, seguir as normas - que muitas vezes são a tradução do mais elementar bom senso - pode significar a diferença entre um pequeno susto e uma tragédia.

Quem compra “fogo” deve ter o cuidado de procurar empresas que cumpram as regras e quem manuseia o material deve ter formação para a tarefa que está a executar e nunca facilitar. Mas a todos nós cabe a tarefa crucial de mudar mentalidades, exigindo que a segurança se sobreponha à tradição e que a qualidade seja mais importante do que a quantidade. E isso implica, em muitos casos, acabar com o foguetório, para que haja realmente festa.

[Publicado no Diário do Minho, 25 de Agosto de 2009]

2 comentários:

M. disse...

E, sendo no Verão, pior ainda!

Bacurinhos disse...

Não poderia estar mais de acordo. Comigo acabava-se já com foguetório. A desculpa do peso económico deste sector comigo não pega.
Quando passam na minha porta os "festeiros" (a pedir ajuda para as ditas festas) comigo não levam nada. Levarão algo quando me garantirem que não há foguetes.
É que além de irritarem o descanso das pessoas, em matéria de segurança ainda se correm muitos perigos por cá. Lançar fogo sem cana não é a única medida de segurança.
Ahhh, o hábil truque de começar a lançar foguetes ás 23h50 face às licenças (quando as há) passadas pelas entidades responsáveis também deveria merecer uma maior fiscalização das forças de segurança.