sexta-feira, 19 de junho de 2009

Os feriados fazem bem à economia?

Em tempos de crise, somos bombardeados com diversas teorias económicas tentando explicar as suas causas, bem como as medidas necessárias para a combater. A maioria das pessoas não tem conhecimentos suficientes para discernir o certo e o errado em cada uma delas, mas quem lida diariamente com as finanças domésticas não deixa de se interrogar acerca da sensatez de certas propostas.

Foi precisamente com dúvidas de não-especialista em Economia que fiquei ao ler um artigo no “Sol” em que alguns economistas contactados pela Agência Lusa afirmavam que os vários feriados nacionais e locais numa semana são positivos para a economia do país. A ideia é que estes dias poderiam dar «um pequeno empurrão à economia nacional, puxando pelo consumo, especialmente da área dos serviços».

Durante anos, ouvimos especialistas dizer que o principal problema da economia portuguesa era a sua falta de produtividade e que os muitos feriados e "pontes" custavam ao país demasiados milhões de euros por ano. Não deixa de ser surpreendente que agora, em tempo de recessão mundial, se apontem os dias “inúteis” como dinamizadores da economia. Apela-se ao consumo, como se por consumirmos mais ficássemos mais ricos. E se, no limite, passássemos meio ano, ou até o ano inteiro, de férias? Portugal seria magicamente propulsionado para o patamar dos países mais ricos do mundo?

Numa economia rica, as pessoas têm mais dinheiro disponível e por isso consomem mais. Mas consumir mais, por si só, nada acrescenta à riqueza total, apenas a distribui. Poderá argumentar-se que o aumento do consumo estimula a produção, mas consumir num cenário de escassez de dinheiro beneficia apenas os produtores e os prestadores de crédito; os consumidores simplesmente endividam-se mais. Ora, em Portugal, o problema do Estado, das famílias, das empresas e da banca é precisamente o sobreendividamento.

Não deixa de ser inquietante que, muitas vezes, as reportagens sobre as famílias com excesso de dívidas nos revelem gastos em bens supérfluos, indiciando um estilo de vida acima das suas possibilidades, mas do qual não pretendem abdicar. É bom ir de férias, usar roupas de marca ou ir a restaurantes caros? É, mas ficaremos mesmo todos melhor se consumirmos mais quando falta dinheiro?

[Publicado no Diário do Minho, 11 de Junho de 2009]

2 comentários:

Delta X disse...

Lembro um frase que ficou célebre há alguns largos anos quando foi dita por Pimenta Machado, antigo presidente do Vitória de Guimarães: "o que hoje é verdade, amanhã pode ser mentira".

lpedromachado disse...

Muito bom artigo, Luísa. ;) Parabéns. Felizmente, ainda há gente sensata neste país.