sábado, 11 de abril de 2009

Ainda há um mundo lá fora…


Dez anos depois da realização da I Convenção de Jornalistas, o Gabinete de Imprensa de Guimarães promoveu um encontro que visou analisar o que é que mudou no mundo do jornalismo ao longo desta década. Numa profissão onde tantas vezes se “mandam bitaites”, mas poucas vezes se reflecte verdadeiramente sobre a prática jornalística, esta iniciativa constituiu uma oportunidade para analisar com algum distanciamento os caminhos que estão a ser seguidos.

A questão tecnológica afigurava-se à partida como um tema incontornável, numa altura em que parece ganhar força a imagem do jornalista de redacção às costas, pronto para transmitir a mensagem nas mais variadas plataformas. Esser Jorge usou a fabulosa expressão o “dom da Obikwelidade” para sintetizar a característica que os jornalistas têm de ter quando lhes é pedido que trabalhem cada vez mais rapidamente e façam serviços em vários locais ao mesmo tempo.

O debate não defraudou as expectativas e acabaram por ser lançados alertas sobre a mitologia ligada à técnica e advertências importantes para quem quer transformar o jornalismo em fábricas de notícias, em linhas de montagem (expressão usada por Alexandre Gamela), onde conta mais o baixo custo da produção e a quantidade e do que a qualidade, e se esquece o lado humano.

José Rebelo, professor do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, que liderou o estudo relativo ao perfil sociológico dos jornalistas portugueses, explicou, aliás, que o jornalismo é uma profissão «cada vez mais feita por estagiários» e com «muito desemprego camuflado». Dos 7402 jornalistas com carteira profissional, em Dezembro de 2006, 5 por cento estavam desempregados, 15 por cento trabalhavam em regime freelance (termo usado para camuflar a ausência de emprego) e 7,5 por cento eram estagiários.

Ficou também um alerta para o tom monocórdico do jornalismo, resultado da auscultação das mesmas fontes, tantas vezes sem sair da redacção. O jornalista tem obrigatoriamente de estar na Internet, porque essa é uma realidade incontornável, mas não pode esquecer que há um mundo real fora das paredes do local de trabalho. É preciso «sair à rua e sujar os sapatos», como disse o grande repórter Miguel Carvalho.

Choca-me que haja jornalistas que promovam o jornalismo de “fundilhos na cadeira”. Fico perplexa ao ver que há jovens jornalistas em início de carreira que fazem um ar de frete cada vez que há a possibilidade de saírem para a rua em reportagem, mas em compensação lutam para ser os primeiros a descobrir um comunicado num site, que provavelmente dará origem a uma notícia breve e insignificante. Será isso jornalismo?!

[Publicado no Diário do Minho, de 6 de Abril de 2009]

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