quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Valores e media


Um dos aspectos curiosos do jornalismo reside no facto de, durante as férias, se ter tempo para apreciar os meios de comunicação social com maior distanciamento em relação ao corrupio do dia-a-dia. E também para auscultar o que se diz sobre o sector...

Há vários anos que tenho férias na época de Natal e os media tradicionais – com destaque para a televisão – já (quase) não me conseguem surpreender. A programação televisiva tornou-se previsível e repetitiva. Há filmes com lugar cativo consoante o período do ano, pelo que já é possível fazer apostas em relação às películas que vão passar no pequeno ecrã na Páscoa.

Não perdi muito tempo em frente à televisão, no entanto parei para ver alguns minutos do “Doutor Preciso de Ajuda”. A ideia que retive foi a de pessoas que faziam depender o fim da sua solidão da mudança de visual, como se arranjar os dentes tortos fosse a arma milagrosa para encontrar um príncipe encantado e ser feliz para sempre. Acabei por não ver até ao fim, mantendo-me fiel a um princípio cultivado desde a infância: o botão de desligar é para ser usado quando o programa não interessa.

Depois, numa viagem de comboio, li uma revista que habitualmente não compro. Artigos, perfeitamente enquadrados na linha editorial desta publicação de grande tiragem, apresentavam a traição como um caminho – e até alicerce – para a felicidade.

Pelo meio, ouvi opiniões preocupantes sobre o que se pensa ser o trabalho de um jornalista, fruto de alguns programas de televisão e de práticas menos correctas dos meios de comunicação em relação à separação que deve haver entre informação e publicidade.

É alarmante que se espere que o jornalista seja um animador de festinhas privadas, que se encare com naturalidade que o jornalista tenha de angariar publicidade para pagar o seu salário ou que se acredite que é possível fazer bom jornalismo online sem profissionais...

Num mundo em que os valores são cada vez mais relativos, em que a informação circula em quantidades e velocidades assombrosas, em múltiplos formatos, regressei ao trabalho com a reforçada convicção de que a educação para os media é cada vez mais necessária. A começar por muitas pessoas que trabalham neste sector...

[Publicado no Diário do Minho, de 7 de Janeiro de 2009]

© Peter Steiner, aqui.

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