sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Onde anda a criatividade?


O ano de 2008 ficou marcado pelo lançamento de duas campanhas de publicidade que evocam o passado romano da cidade de Braga. Embora remetendo para um imaginário de violência que é dispensável na prática desportiva, o Sporting Clube de Braga “ressuscitou” o espírito dos guerreiros do império romano. Por seu turno, a Associação Comercial de Braga pôs um romano de saco das compras na mão a passar a mensagem de que «o comércio está no centro» e que «o maior centro comercial do país tem 2000 anos».

Estas duas campanhas deixaram no ar a expectativa de que poderá haver uma mudança no rumo na promoção da cidade, com uma aposta na exploração do filão do património histórico. Esta nova linha em perspectiva parece ser muito promissora pelas implicações que ela poderia ter ao nível da preservação e divulgação do legado histórico. Numa vertente mais tangível, num contexto em que a concorrência entre as cidades é cada vez maior, aproveitar uma mais-valia singular para promover o desenvolvimento parece uma medida de simples bom senso.

Por isso, espera-se que os novos cartazes a apregoar que “É bom dormir em Braga” tenham uma rápida explicação, sob pena de afectarem gravemente a imagem da cidade. Eles representam a “recauchutagem” de um velho slogan, que se vulgarizou (veja-se, por exemplo, o anúncio da Póvoa de Varzim, apoiado pelo Turismo de Portugal, que diz “É bom viver aqui”). Para além da falta de criatividade, esta mensagem é assassina para a cidade à qual ela se colar, passando a imagem de uma localidade-dormitório e permitindo até leituras menos literais...

É verdade que a cidade vai ter novos hotéis e que instrumentos de avaliação como a auditoria à qualidade de vida urbana na Europa e o diagnóstico das dinâmicas e carências habitacionais a nível nacional focam a facilidade de encontrar habitação a preços acessíveis em Braga. Contudo, ironicamente, uma das mais-valias da cidade é justamente um dos seus piores defeitos, que não interessará destacar.

A nível global, as cidades lutam para conquistar o epíteto de criativas e atrair o grupo restrito de pessoas e projectos que verdadeiramente interessam. Em Portugal há câmaras, entre as quais a de Guimarães, que se uniram para criar uma rede de cidades criativas e há projectos para desenvolver este sector com um grande potencial de crescimento. Neste contexto, no Ano Europeu da Criatividade, será certamente muito mau se o “É bom dormir em Braga” se tornar no cartão de visita da cidade.

[Publicado no Diário do Minho de 25 de Janeiro de 2009]

5 comentários:

Cláudio Rodrigues disse...

Uma das leituras mais literais no Café Toural.

Carlos Leite disse...

Realmente, criatividade macaca...primeiro porque parece um slogan daqueles feitos nos anos 50 mas a cores,depois a mistura dos slogans...bem vindo a Braga...é bom Dormir em Braga. leva a que não se apanhe nem uma nem outra.

acho que este tipo de campanha passada em out-doors funciona muito mal, e o apelo que se desejaria fica esbarrado e perdido.

porque nao fazer esta campanha em meios de proximidade,nos lugares que antecedem a dormida, ou mesmo no verso dos mapas da cidade que se podem ver e com mais informaçao disponivel.

saudaçoes cordiais.

www.pensarbasto.blogspot.com

Tiago Laranjeiro disse...

Cara Luísa,

Já viu a nova campanha a promover os TUB? Contrariamente à campanha que motiva este artigo, parece-me muito bem conseguida, com o slogan "You TUB".

Anónimo disse...

Luisa,
Eu cá acho que estamos perante uma onda de "criatividade machista".
No fundo, não passa de uma erecção cerebral de um criativo qualquer...

Ora repara:
É bom dormir em Braga como? Com quem?
Fazendo jus à imagem, não me parece que seja bom dormir na fria e húmida Arcada, já quanto à loira sorridente, bem...
E se formos à tal campanha do You TUB (que alguém achou bem sucedida, vá-se lá saber porquê) lá aparece um rabiosque sugestivo e muito convidativo a uma... boa viagem!

Saudações (e desculpa Luisa... vir para aqui aporcalhar o teu blogue)

Pedro Costa

Dario Silva disse...

Acontecer um cartaz destes numa cidade tão cheia de gente nova e plena de ideias é tão triste como só agora ter surgido uma carreira bus Estação-Gualtar!