domingo, 4 de janeiro de 2009

Felisbela Lopes lança «obra de referência» no estudo da televisão


Paquete de Oliveira assina prefácio do livro



O Provedor do Telespectador considera que o livro "A TV do Real - A Televisão e o Espaço Público", da docente do Departamento de Ciências da Comunicação da Universidade do Minho Felisbela Lopes, é uma obra de referência no estudo dos "media" e particularmente da televisão como dispositivo tecnológico e como fenómeno na construção e (des)construção da sociedade contemporânea».

Paquete de Oliveira defende que a leitura do livro que agora foi lançado pela Minerva Coimbra «é um precioso "mapa" orientador de uma discussão mais fundamentada e baseada em argumentos decisivos, sendo que «provavelmente a televisão é um dos assuntos que mais se discute em Portugal».

O académico afirma que «vêm aí tempos difíceis para a televisão em geral e sobretudo para a televisão dita generalista e transmitida em sinal aberto». «A bem dizer, todos os operadores televisivos caminham para ser temáticos. TVI e SIC têm em grande parte a sua programação reduzida não a uma temática, mas a um "género" fixo, a telenovela», acrescenta.

Em seu entender, neste cenário, resta, porventura, «ao papel de uma televisão, com o estatuto de serviço público, manter uma programação generalista, ainda que reconvertida em programação temática em diferentes plataformas e canais».

Não advogando um jornalismo para o serviço público de televisão e um jornalismo para as estações privadas, Felisbela Lopes defende que «poderá haver uma programação informativa que será mais específica dos operadores públicos».

Pensar a TV com alguma distância do corrupio das imagens

Felisbela Lopes explica, no início do livro "A TV do Real - A Televisão e o Espaço Público", que «de tão presente no nosso quotidiano quase não damos pela sua presença, mas a televisão lá está, comodamente instalada em nossas casas, abrindo diante de nós um mundo que também é assim porque ela existe».

«Pelo pequeno ecrã temos acesso àquilo que de mais importante se passa à nossa volta, mas a construção audiovisual da realidade também redesenha o mundo que temos. Há, pois, aqui um movimento circular entre televisão e sociedade que nos pede que, por momentos, pensemos este binómio com alguma distância do corrupio das imagens e dos sons audiovisuais», afirma.

A publicação, estruturada em três capítulos, apresenta a parte teórica da tese de doutoramento que Felisbela Lopes defendeu na Universidade do Minho. A parte da análise da informação semanal dos canais generalistas portugueses, entre 1993 e 2003, foi publicada, em 2007, no livro "A TV das Elites", pela Campo das Letras.

O primeiro capítulo centra-se no lugar que a televisão ocupa na sociedade. «Para além de ser uma instância (re)produtora de um acervo de conhecimentos, a TV poderá igualmente ser uma impulsionadora de novas formas de vida e promotora de elos sociais», escreve.

No segundo capítulo, a investigadora reflecte sobre questões como: Que papel terá a TV no espaço público? Será que redesenha novas fronteiras? Que modelos a sociedade actual fornece ao pequeno ecrã? Será que as emissões criam uma nova realidade ou recriam aquilo que está fora do pequeno ecrã? E o que é que encontram no ambiente exterior?

«Para além de ser um importante meio de configuração social da realidade e de envolver substanciais índices de audiência, a televisão generalista apresenta cenas mediáticas que se assumem como importantes espaços públicos (mediatizados). É através dessas formas televisivas de publicitação da vida pública e privada que se institui um presente social através do qual se introduzem na consciência quotidiana acontecimentos/problemáticas diversas», pode ler-se na publicação.

No último capítulo, a especialista perspectiva a informação «enquanto campo de responsabilidade social e enquanto espaço onde o espectacular tem lugar».

Mais sobre estas questões na entrevista de Felisbela Lopes:

Televisão pode estar a estrangular o espaço público

Seria muito positivo que o quinto canal fosse do Norte

Assuntos do registo emocional exigem cuidado ético acrescido

[Publicado no Diário do Minho de 25 de Dezembro de 2008]