Reflexões em torno da comunicação, nas suas mais variadas formas, e não só. Um exercício de cidadania. Por uma jornalista, que será sempre a culpada. Pelo menos por aqui...
sexta-feira, 3 de outubro de 2008
"Conferencio, logo existo"
«As conferências de imprensa tornaram-se uma praga: demasiadas vezes feitas de textos soletrados, assuntos umbilicais, queziliazinhas entre pequenos moradores de um Portugal dos pequeninos. "Conferencio", logo existo – devem pensar.
Se há perguntas, repetem pobremente o que já leram, com os jornalistas a desenharem rodinhas de "não me interessa o peixe" ou a desistirem da questão pertinente que não encontrou substância. Porque, obviamente, deve haver substância nestas coisas que ocupam fatias substanciais de tempo».
Estas palavras foram escritas há mais de seis anos pelo anterior director do Diário do Minho, cónego João Aguiar Campos, mas mantêm toda a actualidade e pertinência face à vulgarização e banalização deste modo de fazer chegar a informação à imprensa.
As conferências de imprensa fazem parte da vida de qualquer jornalista e são, em teoria, uma excelente oportunidade para recolher informação, na medida em que se está cara-a-cara com o protagonista da notícia. Só que entre o plano teórico e a prática vai uma distância abismal.
Há quem convide os jornalistas e até mande os múltiplos assessores perguntar quem são os profissionais destacados, numa forma nada subtil de pressionar para que o órgão de comunicação esteja presente.
Depois da deslocação nada é mais confrangedor do que encontrar pessoas que lêem penosamente um texto e que na parte das perguntas revelam a mais profunda ignorância sobre o tema do qual se propuseram falar.
Da mesma forma, é inaceitável que o autor do convite – trata-se de um convite que, obviamente, e por mais que isso possa eventualmente desagradar, não é obrigatório aceitar – se irrite e subitamente mude de ideias, decidindo não responder a questões ou escolhendo apenas aquelas que lhe interessam.
Em Espanha, foi lançado um manifesto pela racionalização dos horários no jornalismo, que integra a reivindicação de que não sejam convocadas conferências de imprensa para depois das 18h00. Eu não peço isso. Peço apenas que as conferências de imprensa sejam verdadeiras conferências de imprensa. Caso contrário, não se dêem ao trabalho...
Foto DR
[Artigo publicado no Diário do Minho de 2 de Outubro de 2008]
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