Centro de Comunicação e Sociedade da UM desenvolve projecto pioneiro
“Os Postais ilustrados: para uma sócio-semiótica da imagem e do imaginário” é o título de um projecto pioneiro a nível nacional, que visa «a recuperação dos postais ilustrados enquanto expressão ou materialização do imaginário popular». O trabalho do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho (UM) vai incluir a criação de um museu virtual da memória colectiva.
A equipa de investigação, liderada por Moisés Martins, propõe-se fazer uma «macro-colecta de postais ilustrados» em quatro regiões de Portugal: Minho (Viana do Castelo e Braga), Bragança, Viseu e Évora, abrangendo «exemplares de desde 1860 até à actualidade, incluindo, por isso, variantes contemporâneas do fenómeno, como o são os “free cards” ou os “electronic cards”.
Após esta recolha e inventariação do material, o grupo de seis investigadores da academia minhota e um da Universidade de Porto propõe-se criar uma base de dados que será «uma espécie de museu virtual da memória colectiva, de livre acesso».
O repositório será alojado num “website”, permanentemente actualizado em Português e em Inglês, quer servirá de «elo de ligação com outras comunidades académicas e com o público em geral, divulgando além das fronteiras nacionais o projecto e a sua evolução e abrindo espaço ao contributo dos cibernautas».
Em funcionamento está o blogue “Postais Ilustrados", que serve de «registo a pequenas observações proporcionadas pela riqueza das representações a que o postal serve de suporte».
Expressão
histórica e cultural
Aprovado e financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, este projecto tem como missão «resgatar um meio de comunicação marginal que, ao fixar pela imagem os usos e costumes regionais, as paisagens rurais e urbanas e os cenários políticos e sociais, exprime as representações que as culturas têm de si mesmas e a sua evolução ao longo do tempo».
Os investigadores salientam que, «numa altura em que se vive plenamente a civilização da imagem, sobretudo da imagem digital e dos modos electrónicos de comunicação e de visualização, a fixação do olhar em postais ilustrados constitui uma necessidade de ler nas imagens ilustrativas da comunicação interpessoal traços da auto-imagem de uma dada cultura».
«Tal como o monitor nos computadores, o postal constitui uma espécie de janela para o mundo, tecnicamente orientada, que determina as condições do olhar local, regional e nacional. Ilustrando paisagens, monumentos, lugares e figuras-tipo, os postais são um repertório de imagens que fazem a história de um povo, mas também as próprias figurações humanas que constituem o imaginário actual», sublinham.
Para esta equipa, «os postais ilustrados registam um entendimento de formas da tradição cultural e de observação da paisagem/natureza que nos permitem chegar aos modos de olhar caracterizadores e diferenciadores de uma dada civilização, a uma certa consciência colectiva e a determinadas representações sociais».
Por outro lado, os promotores do projecto recordam que «os postais pertencem à história da comunicação, que não é alheia a história das tecnologias de informação pela imagem». «Fazer a história dos postais ilustrados é um modo de perceber a evolução específica de suportes marginais tão importantes para os estudos comunicacionais como a imprensa ou os “media” audiovisuais. A abordagem histórica permite compreender determinados cursos de transformação cultural, histórica ou sociológica numa determinada época e lugar», destacam.
[Artigo publicado no Diário do MInho de 2 de Julho de 2008]
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