sábado, 17 de maio de 2008

«Só sou verdadeiramente livre quando escrevo»



O primeiro livro de Rui Manuel Amaral, intitulado “Caravana”, é lançado hoje, a partir das 18h00, na Centésima Página.

Editada no âmbito da primeira colecção nacional dedicada à micronarrativa, a publicação levou cerca de dois anos a preparar.

A promoção desta obra inclui lançamentos ao domicílio, para além das sessões em livrarias e da promoção na Internet.

Publicitário, coordenador literário da revista “aguas-furtadas”, co-autor do blogue “Dias Felizes” e baterista da banda rock “The Jills”, Rui Manuel Amaral afirma que só se sente verdadeiramente livre a escrever.

Numa entrevista em que mantém o esforço de síntese dos microcontos, o escritor defende que não existe nada de que um autor se possa orgulhar mais do que conceber um livro capaz de despertar nos leitores a vontade de escrever.

O livro “Caravana” já está a percorrer o país. Quanto tempo é que demorou a escrever?
O livro demorou cerca de dois anos a preparar. Mas vários contos são anteriores à concepção do livro e conheceram múltiplas versões ao longo do tempo.

Os microcontos foram pensados com a meta de serem publicados em livro? Publicar um livro era uma meta?
Quando escrevi as primeiras versões de alguns contos não estava a pensar na sua publicação em livro. A partir do momento em que surgiu essa possibilidade, reescrevi-os de maneira a funcionarem em conjunto. Outros textos foram escritos com o propósito de serem publicados neste volume.

Ironia, sentido de humor e poesia parecem ser três dos ingredientes deste livro. Concorda?
Sim. As minhas receitas preferidas incluem sempre esses três ingredientes. E mais um ou dois.

As críticas ao livro têm sido positivas. Não receia que a fasquia fique colocada demasiado alta para as próximas publicações?
Não. O próximo livro será necessariamente diferente deste e, portanto, não são casos comparáveis.

Não é um risco que o primeiro livro seja de microcontos?

O risco era o mesmo se fosse um romance, um volume de poemas ou um livro de culinária. Tudo depende do grau de exigência que cada autor impõe a si próprio.

Há quanto tempo se dedica à micronarrativa? Concilia este formato com outros tipos de escrita?
Escrevo há muito tempo. Não me recordo exactamente quando comecei. Neste momento, e no que toca à escrita, dedico-me quase exclusivamente ao conto breve.

Deixa a porta aberta para que, depois de ler o livro, cada um experimente escrever microcontos. Quer despertar o gosto pela escrita?
Várias pessoas confessaram-me que depois de lerem o “Caravana” ficaram com vontade de escrever. Creio que não existe nada de que um escritor se possa orgulhar mais do que conceber um livro capaz de estimular a esse ponto a imaginação dos seus leitores.

Propõe um formato original de apresentação do livro: lançamentos ao domicílio. Porquê?

“Caravana” é um livro diferente. Quanto mais não seja porque é o volume inaugural da primeira colecção portuguesa dedicada à micronarrativa. Nesse sentido, procurei criar acções de divulgação do livro que sublinhassem essa mesma diferença. Os lançamentos ao domicílio são uma dessas acções. Mas há outras.

O livro tem algum público predefinido?

Não. O livro dirige-se a toda a gente.

A Angelus Novus lançou a primeira colecção portuguesa dedicada à micronarrativa. Estamos muito atrasados em relação aos outros países?
Em Portugal, há muitos autores a cultivar o conto breve. Nesse sentido, creio que não estamos atrasados. A diferença está no número de livros que chegam às livrarias. Entre nós, apenas a Angelus Novus possui uma colecção, a Microcosmos, dedicada exclusivamente a este género. Ao contrário do que acontece, por exemplo, no Brasil, onde a micronarrativa está em contínua expansão e possui uma ampla presença nas livrarias.

É difícil para um jovem escritor conseguir editar?

Todos os dias há dezenas de livros a sair dos prelos. Se exceptuarmos alguns casos óbvios, todos os autores sentem alguma dificuldade em chegar aos leitores. No caso dos estreantes os problemas são naturalmente maiores.

O blogue “Dias Felizes” funciona como um laboratório de ensaio?

Sim, é uma excelente oficina.

A preocupação de escrever com regularidade não é escravizante?
Não, pelo contrário. Só sou verdadeiramente livre quando escrevo.

Como é que se concilia a escrita com a actividade profissional?

Sou publicitário. Por outras palavras, o meu trabalho consiste em criar histórias suficientemente credíveis para que as pessoas acreditem nelas. O que faço não está muito longe do que faz o escritor.

Gostava de se dedicar apenas à escrita?

Eu dedico-me apenas à escrita.

[Publicado no Diário do Minho a 16/05/2008]

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